O Observatório de Violência Obstétrica (OVO) apelou aos conselhos de administração dos hospitais para repensarem o modelo de gestão de profissionais de saúde na área de obstetrícia/ginecologia, envolvendo mais os profissionais não médicos.
Em comunicado, insiste na multidisciplinaridade dentro do Serviço Nacional de Saúde (SNS), permitido, por exemplo, aos enfermeiros especialistas em saúde materna e obstétrica (EESMO) assumir funções de vigilância da gravidez e assistência ao parto de baixo risco.
Desta forma, defende, é possível melhorar os cuidados prestados e, simultaneamente, retirar a atual pressão sobre a classe médica.
Em relação ao pagamento das horas em urgência dos médicos especialistas, o observatório diz que o diploma "é importante, mas não o suficiente".
"Não são os únicos profissionais que acompanham as grávidas. Para além de reter médicos especialistas é necessário reter enfermeiros especialistas, que contribuem em muito para o modelo centrado na mulher, tal como a OMS defende", refere.
O observatório aponta ainda a "falta de compromisso" com um "modelo centrado na mulher", assim como a falta de investimento no SNS, sublinhando que tem um impacto muito negativo na experiência das mulheres e famílias, pelo modo como se nasce em Portugal.
Sobre a crise nas urgências de obstetrícia, diz que "o medo e o stress que as grávidas neste momento sentem por não saberem como estará a urgência do hospital de referência ou o hospital que decidiram parir" se concentra nas classes mais desfavorecidas.
Na nota, o OVO questiona ainda o "negócio da saúde", lembrando que no setor privado "a questão das escalas se resolve com agendamento de cesarianas e induções sem recomendação clínica".
O OVO insiste que é preciso "englobar mais profissionais e mais opções na assistência ao parto" e defende uma reestruturação no apoio ao nascimento.
Sobre os pedidos de escusa, o OVO diz que apenas servem para justificar "falhas de serviço", voltando a insistir que os ginecologistas/obstetras são "responsáveis por aumentar riscos às grávidas por interferirem demasiado no parto e por iniciarem toda uma cascata de intervenções".
"Não estão livres de responsabilidade por fazerem episiotomias, por fazerem manobras de Kristeller, nem instrumentalizar partos só porque sim, só porque querem despachar "a coisa", nem por obrigarem as grávidas a estarem deitadas, nem por expulsarem os acompanhantes do quarto e, inclusive, do bloco de partos", escreve.
Finalmente, o observatório questiona o Ministério da Saúde sobre porque não consulta, além dos ginecologistas/obstetras, outros profissionais de saúde que fazem o acompanhamento a grávidas - "por exemplo, representantes da Ordem dos Enfermeiros" - e sobre o motivo pelo qual não engloba nas comissões criadas associações e movimentos que representam as mulheres, "que são o elo mais fraco desta cadeia".
O OVO é uma associação sem fins lucrativos, formada por utentes e profissionais do sistema de saúde, que visa melhorar as condições de atendimento às mães e filhos durante a gravidez, parto e puerpério.