Há mais um percurso para encorpar o Caminho Português de Santiago. Trata-se do denominado Caminho Central da Península de Setúbal, apresentado em Palmela, este domingo, no dia de Santiago Maior e em pleno Ano Santo Jacobeu.
Com uma extensão de cerca de 90 quilómetros, o novo percurso está estruturado em quatro etapas, de acordo com o historiador Paulo Fernandes, responsável pela realização de um estudo pedido à Associação de Peregrinos Via Lusitana.
“A primeira é entre Casebres (Alcácer do Sal) e Águas de Moura, com 30 quilómetros. A segunda é entre Águas de Moura e Setúbal, 24 quilómetros, a terceira, de 18 quilómetros, entre Setúbal e Vendas de Azeitão, com passagem pelo centro histórico de Palmela, e, por fim, a quarta etapa liga Vendas de Azeitão ao Barreiro, com travessia para Lisboa, numa extensão de 17 quilómetros”.
Na verdade, são milhões os peregrinos que já passaram, através dos diversos caminhos, pela catedral de Santiago de Compostela, para venerar as relíquias do apóstolo Tiago. É assim desde o século IX, altura em que foi descoberto o sepulcro do santo.
Por motivos de fé, pelo desafio da caminhada a pé ou por razões de ordem cultural, são muitas as razões que levam os peregrinos até à Galiza, no norte de Espanha.
As evidências históricas e patrimoniais, tal como a garantia de melhores condições de segurança e de apoio, levaram a Câmara Municipal de Setúbal a pedir a realização do estudo do traçado para que o novo itinerário possa vir a ser certificado.
“Do estudo efetuado resultou o trajeto de mais de 90 quilómetros que ligarão Alcácer do Sal ao Barreiro, passando pelos concelhos de Montemor-o-Novo, Vendas Novas, Setúbal e Palmela”, referiu, na apresentação, a presidente do município sadino, adiantando que, em termos de alojamento, a cidade disponibiliza, para já, a Pousada da Juventude e a Casa das Quatro Cabeças.
Novo caminho une vários municípios
Por tratar-se de um caminho que atravessa vários municípios, Maria das Dores Meira defendeu uma maior “cooperação e a criação de sinergias entre parceiros, como a diocese, as associações de peregrinos ou os operadores turísticos.”
“É importante que os municípios se unam e desenvolvam, entre si, uma estratégia conjunta de comunicação, informação e criação de condições de acolhimento e restauração”, pois “sem esta cooperação, simplesmente, não existirá caminho”, apontou.
Opinião corroborada pela Câmara Municipal de Palmela ou não fosse parceira neste projeto.
“Este é um dia muito especial, pois além de comemorarmos o dia de Santiago, com grande significado cultural e religioso, estamos também a homenagear o apóstolo com a apresentação de um novo percurso, importante para a região e o país”, destacou Luís Miguel Calha.
O vereador com o pelouro do Turismo lembrou que “Portugal tem mais de 500 mil peregrinos só nos Caminhos de Santiago”, por isso, este “é um passo relevante para o progresso do nosso território e para a sua afirmação, tanto do ponto de vista turístico e económico, como também no que diz respeito aos valores da fé, da espiritualidade e na aproximação das pessoas.”
O município de Palmela está, entretanto, a trabalhar para que “em breve seja uma realidade a existência de um albergue no concelho”, indo ao encontro de uma necessidade apontada pelo estudo realizado.
“O caminho pode ser excelente, pode ter muitos pontos de interesse, pode estar sinalizado, mas só terá peregrinos se tiver albergues e nós colocamos, aqui, a hipótese de fazer três albergues”, alertou o historiador Paulo Fernandes.
“Voltar a aprender a caminhar” em tempo de pós-pandemia
O Caminho Central da Península de Setúbal conta com total apoio da diocese. D. José Ornelas juntou-se à apresentação para lembrar que “estes percursos estão a ganhar muitos adeptos” e que é necessário, em tempo de pós-pandemia, “voltar a aprender a caminhar”, privilegiando a introspeção.
“Há que fazer a peregrinação da vida, também no caminho do interior, na descoberta de si próprio em relação ao mundo que se atravessa, sempre com respeito”, observou o bispo de Setúbal, para quem “a vida é uma viagem” onde todos “caminhamos juntos”, num “caminho que nunca está terminado.”
De sublinhar que todo este trabalho de investigação começou o ano passado. A partir de agora vão ser implementadas ações, como a sinalização dos percursos, assim como a divulgação desta nova oferta, para que seja possível “obter a certificação da variante” da Península de Setúbal do Caminho de Santiago.
Quer Setúbal, quer Palmela são municípios associados da Federação Portuguesa do Caminho de Santiago (FPCS), projeto que começou em 2017, por iniciativa do município de Vila Pouca de Aguiar, enquanto representante de Portugal na Federação Europeia do Caminho de Santiago.
Criar um modelo de entidade agregadora, à escala nacional, para promover e dinamizar as vias de peregrinação a Santiago de Compostela, em Portugal, foi o propósito desta federação que seria formalizada em 2019.
Segundo Célia Marques, da direção da FPCS e presidente da Câmara Municipal de Alvaiázere, presente na cerimónia deste domingo, neste momento, “temos cerca de 40 municípios associados e mais de dezena e meia de outros interessados”, na adesão à federação.
Além dos municípios, podem associar-se, também, associações de peregrinos, entidades religiosas e outras, desde que tenham uma relação com a tradição jacobeia.