Os representantes sindicais e trabalhadores da refinaria da Galp de Matosinhos apelaram esta terça-feira ao executivo para ajudar a “reverter a decisão” de encerramento do complexo e afirmaram que permanecem “sem saber” qual será o seu futuro.
“O nosso propósito é reverter a decisão que a empresa anunciou e que, a todos os níveis, parece uma decisão totalmente errada”, afirmou Rui Pedro Ferreira, dirigente do Sindicato da Indústria e Comércio Petrolífero (SICOP) e funcionário há 34 anos na Petrogal, na reunião da câmara de Matosinhos, apelando aos vereadores para “ajudarem os trabalhadores a reverterem a decisão” da Galp de encerrar a refinaria de Matosinhos.
Também presente na reunião, Telmo Silva, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energias e Atividades do Ambiente (Site-Norte) e trabalhador na refinaria afirmou ter sido “com enorme desilusão e choque” que viu o anúncio da intenção da administração da Galp de encerrar a refinaria de Matosinhos.
“A administração, através de uma comunicação pela calada da noite à CMVM, informou que iria descontinuar a refinaria sem qualquer comunicação prévia, nem aos trabalhadores, nem às estruturas representativas que são os mais interessados e os que vão sofrer as maiores consequências”, disse Telmo Silva.
Segundo o responsável sindical, volvidos oito dias “os trabalhadores permanecem sem qualquer indicação sobre o seu futuro”.
“Esta situação desfere um golpe muito grande na região e no país”, afirmou, acrescentando que os sindicatos defendem a permanência do complexo e a manutenção dos postos de trabalho.
Em resposta a questões dos vereadores, José Santos, trabalhador na Petrogal disse que permanece “um secretismo” em torno da decisão da administração e que os trabalhadores “exigem que a Galp fale verdade e seja transparente”.
“Sempre que se faz uma mudança, quem paga a fatura são os trabalhadores”, afirmou, acrescentando que neste momento, todos os trabalhadores estão “sem saber o seu futuro”.
Depois de ouvir os trabalhadores, a presidente da câmara de Matosinhos, Luísa Salgueiro, lamentou o facto de a administração da Galp não ter incluído os trabalhadores na decisão de encerramento da refinaria e deixou a garantia de que os trabalhadores podem contar com a autarquia.
O vereador José Pedro Rodrigues da CDU lamentou a decisão da administração da Galp e afirmou que “impacto social da decisão é nefasto para a região e para o concelho de Matosinhos”.
Também Bruno Pereira, vereador do PSD, mostrou-se “solidário” com os trabalhadores e salientou que a informação sobre o encerramento da refinaria continua, contudo, a ser “escassa”.
O vereador António Parada, do movimento ‘António Parada, Sim!’, garantiu que o movimento “vai estar atento” e que tudo fará para “defender os interesses” dos trabalhadores.
Já a vereadora Ana Fernandes, do movimento ‘Narciso Miranda’, afirmou que este “foi um presente envenenado antes do Natal” e que se mantém a “situação de incerteza”.
A administração da Galp será ainda ouvida na reunião camarária e prestará esclarecimentos aos vereadores.
Em 21 de dezembro, a Galp anunciou, num comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), que "continuará a abastecer o mercado regional mantendo a operação das principais instalações de importação, armazenamento e expedição de produtos existentes em Matosinhos", e que está a "desenvolver soluções adequadas para a necessária redução da força laboral e a avaliar alternativas de utilização para o complexo".
A empresa afirmou que as "alterações estruturais dos padrões de consumo de produtos petrolíferos motivados pelo contexto regulatório e pelo contexto covid-19 originaram um impacto significativo nas atividades industriais de 'downstreaming' da Galp", e disse que "o aprovisionamento e a distribuição de combustíveis no país não serão impactados por esta decisão".
Esta reconfiguração "permitirá uma redução de mais de €90m por ano em custo fixos e investimentos e c.900kt das emissões de CO2 e (scope 1 e 2) associadas ao sistema atual", refere a nota.
Esta decisão já desencadeou várias reações com o Governo a considerar que a decisão da Galp "levanta preocupações" em relação ao destino dos trabalhadores, mas a lembrar que as medidas anunciadas se inserem num processo que visa a descarbonização do setor energético.