Foi a segunda testemunha a ser ouvida no julgamento que arrancou esta quinta-feira no Tribunal do Trabalho de Loures e onde a ex-presidente da Raríssimas exige 147 mil euros à Associação por considerar ilegal o despedimento a que foi sujeita há quatro anos.
Paula Brito Costa foi afastada no final de 2017, depois de denuncias públicas e de uma investigação que lhe apontam má gestão e maus tratos a funcionários da IPSS.
Sónia Custódio relatou em tribunal que os contactos para a realizam de auditorias às contas não eram feitos com Paula Brito Costa, mas sim com Jorge Nunes o responsável financeiro da Raríssimas.
"As contas tinham reservas", explicou a testemunha confrontada com o relatório da auditoria realizada em 2016, a ultima feita pela empresa PKF.
Questionada sobre o que queria isso dizer, a testemunha adiantou que havia nessa data saldos de dívidas à Associação Nacional de Doenças Mentais e Raras no valor de 90 mil euros, cuja recuperabilidade era duvidosa; o subsídio de apoio à contratação não estava devidamente vertido nas contas; as contas bancárias tinha movimentos em aberto, não registado na contabilidade.
A técnica oficial de contas relatou que era muito difícil trabalhar com a Associação porque o responsável pelo pelouro financeiro 'não dava toda a informação. Muitas vezes só dava alguns dados mesmo em cima da data da Assembleia Geral da Raríssimas. Ele pedia o relatório e nós sem informação em tempo útil para o fazer!'.
A situação levou a empresa de consultoria a emitir recomendações para a criação de manuais de boas práticas e de melhoria de procedimentos internos para documentar circuitos de autorizações e decisões, dinheiro, etc..
"Era aflitivo, não queria continuar a trabalhar com eles assim", afirmou a testemunha Sónia Custódio que explicou ao tribunal que a empresa foi afastada da Instituição após um trabalho que fez na delegação Norte.
Foi aí que entrou o nome de Paula Brito Costa, quem tinha recebido uma denuncia de desvios na delegação norte da Raríssimas, o que originou um pedido à empresa de auditoria uma avaliação.
A testemunha relatou que concluído o trabalho se detetou que havia angariações de fundos feitas na rua que não tinham dado entrada nos cofres da Instituição, faturas de consultas atribuídas a utentes mas cuja fatura tinha nomes de familiares da responsável da casa no norte.
"O relatório confirmou os indícios denunciados e depois a Dra. Paula disse que era melhor a empresa PKF deixar de trabalhar para a Raríssimas por uma questão de independência", sublinhou.
Logo no arranque da sessão foi ouvida uma terapeuta da Instituição, mais uma das testemunhas chamadas a tribunal pela ex-presidente, ela que deu conta de que o carro de alta gama que existia na instituição estava disponível para uso da casa quando a carrinha de transporte não estivesse disponível e que não era de uso exclusivo de Paula Brito Costa.
O caso da Raríssimas, foi denunciado em 2017 pela TVI, dando conta que Paula Brito da Costa terá usado mais de 300 mil euros da Raríssimas para gastos pessoais: deslocações fictícias, compras de vestidos de alta costura e em hipermercados.
A ex-presidente da associação foi constituída arguida, acusada dos crimes de recebimento indevido de vantagem, peculato e falsificação de documentos.
Em julgamento pede agora 147 mil euros de indemnização por despedimento ilegal, já a Raríssimas exige mais de 380 mil euros de alegados gastos indevidos.