Por força do calendário, o aniversário do 25 de Abril ocorre poucos dias depois do forte abalo na democracia provocado pelas revelações sobre a TAP e o Governo. Espera-se, sobretudo da parte do Governo e do PS, uma reação capaz de nos fazer acreditar na vitalidade da democracia portuguesa. Será pedir demais?
Uma coisa é certa: se o regime vigente entre nós não fosse democrático não teria sido possível a publicação de tantos artigos e a difusão de tantas intervenções criticando vivamente o que vimos e ouvimos na Comissão Parlamentar de Inquérito à TAP. Mas a liberdade de expressão não é um bem assegurado para sempre; é uma planta frágil que precisa de ser protegida.
Tanto mais que o populismo do Chega é o grande beneficiário do espetáculo deprimente que os trabalhos daquela Comissão trouxeram a público. Há dias André Ventura anunciou que Salvini, vice-primeiro ministro do governo de Itália, e Bolsonaro, ex-presidente do Brasil, virão a Lisboa participar num encontro internacional organizado pelo Chega, marcado para 13 e 14 de maio próximo.
Este encontro, proclamou A. Ventura, “vai colocar Lisboa no centro da direita mundial”. Qual direita? A direita não democrática, que se serve das liberdades democráticas para se afirmar, até que chegue o momento de pôr cobro a tais liberdades. Nós, portugueses, tivemos essa direita no poder, entre 1926 e 1974, e por isso conhecemo-la bem.
Veja-se o percurso de Bolsonaro, que não aceitou a derrota eleitoral frente a Lula e saiu do Brasil para não transmitir pessoalmente o poder ao seu sucessor. Bolsonaro é um discípulo de Trump e segue a regra de nunca aceitar uma derrota nas urnas. Mas que democracia é esta onde apenas se aceitam as votações quando se ganha? Obviamente que a democracia perde sentido com tais práticas.
O que, no fundo, não preocupa os seguidores de Trump e Bolsonaro. Eles pretendem impor outro regime, que não a democracia. Um regime onde esses políticos mandem a seu bel prazer. E onde todos os outros terão que obedecer. É isto que queremos?