Uma milícia apoiada pela Turquia, no nordeste da Síria, está a construir uma mesquita por cima de um cemitério da comunidade yazidi, perto da cidade de Afrin.
O ato de desrespeito pelos yazidis recorda as terríveis perseguições a que esta comunidade foi sujeita nos últimos anos às mãos de fundamentalistas islâmicos e está a ser condenada por organizações representativas desse povo e ONG que trabalham no campo da liberdade religiosa.
Num comunicado enviado à Renascença, a organização Christian Solidarity Worldwide (CSW), refere que a construção da mesquita na aldeia de Basofan começou no dia 6 de outubro.
No comunicado cita a presidente do Conselho Yazidi da Síria, Mesgin Josef, que denuncia o sucedido. “Os yazidis são um povo pacífico e respeitoso de outras religiões. Temos sofrido muito ao longo dos séculos e o que está a acontecer-nos agora não difere em ada do que o Estado Islâmico fez em 2014. Não há justificação para esta provocação”, diz.
A região de Afrin está sob ocupação de grupos rebeldes que se opõem ao regime na Síria e que contam com o apoio militar da Turquia. Invadiram a zona no início de 2018 para expulsar as Forças Democráticas da Síria, uma aliança de milícias que inclui árabes e cristãos mas cuja maioria dos membros são curdos e que dominava todo o nordeste da Síria, onde derrotou militarmente o Estado Islâmico.
A Turquia, contudo, considera as milícias curdas terroristas e ajudou a invadir a zona para estabelecer um “corredor de segurança” junto à sua fronteira com a Síria.
Desde então têm sido numerosas as queixas de violações dos direitos humanos por parte destas milícias, muitas das quais são abertamente jihadistas.
Os yazidis são um povo etnicamente curdo mas que ao contrário da maioria dos curdos, que são muçulmanos, mantém a prática da sua religião ancestral.
Uma vez que não é uma das “religiões do Livro”, como os muçulmanos se referem a cristãos e judeus, os yazidis não gozam de qualquer proteção à luz das interpretações mais violentas da lei islâmica e por isso são perseguidos com particular dureza pelos fundamentalistas. Às mãos do Estado Islâmico os homens eram sumariamente executados e as mulheres raptadas e tornadas escravas sexuais. Ainda hoje, na região de Afrin, há frequentes queixas de rapto e violação de mulheres yazidis por parte de membros das milícias apoiadas pela Turquia.
O fundador e presidente da CSW, Mervyn Thomas, pede que o Governo da Turquia ajude a acabar com a violência inter-religiosa. “As autoridades turcas devem pôr um fim à violência sectária, às violações dos direitos humanos e ao extremismo religioso em Afrin e terras circundantes, e os seus parceiros internacionais devem exigir que se cumpram os padrões internacionais de direitos humanos e de direito humanitário”, lê-se.