O padre Stan Swamy, que foi preso no estado de Jharkhand, na Índia, e acusado de conspirar com um grupo terrorista de inspiração maoísta, está a ser vítima de uma tentativa de silenciamento por parte de grupos políticos que estão ao serviço de interesses económicos.
O sacerdote foi detido no dia 8 de outubro pela Agência de Investigação Nacional e desde então que se encontra em condições precárias, sobretudo tendo em conta a sua idade avançada e saúde frágil, dizem os jesuítas.
Em declarações à Renascença, o padre Xavier Jeyaraj, responsável pelo Secretariado de Justiça Social e Ecologia da Companhia de Jesus a nível mundial, explica que conhece o padre Swamy há quase trinta anos e não tem dúvidas de que as acusações de ligação a terroristas são falsas. “É surpreendente para mim e uma acusação absolutamente inaceitável”, diz.
A verdadeira razão, diz o padre Xavier, é o trabalho desenvolvido por Stan Swamy a favor dos indígenas no estado de Jharkhand. Os indígenas, ou tribais, como são conhecidos na Índia, estão fora do tradicional sistema de castas daquele país e por isso são frequentemente vítimas de opressão. A chave, diz o padre indiano, são os recursos naturais e os interesses económicos.
“Os tribais são apenas 8% da população da Índia, mas possuem terras ricas em recursos naturais, florestas e minerais. São estes recursos que eles querem roubar para entregar às multinacionais. Mas como lhes podem entregar as terras? É preciso primeiro retirar os tribais das terras e Stan Swamy é um obstáculo a esse roubo e venda do país aos grandes interesses económicos. É por isso que ele foi preso.”
A tática, garante o padre Xavier, é tudo menos nova. “Ele é um apaixonado por estas pessoas. Tem vivido uma vida simples e também elaborou um estudo sobre os tribais que foram detidos, acusados de ligações aos maoístas. Ele concluiu que cerca de 102 pessoas já foram detidas e dessas, apenas duas parecem ter tido alguma ligação anterior aos maoístas, mas todos os outros não têm qualquer ligação. Apesar disso ficaram presos durante meses. Ele provou que isto estava errado e meteu um processo em tribunal, que irritou os poderes instalados.”
Para além destes 102 indígenas, outros intelectuais, incluindo escritores, estudantes e advogados, têm sido perseguidos, acusados de ligações terroristas e presos pela mesma razão.
Nacionalismo hindu
Outro dos fatores em causa nesta equação é a subida de influência do nacionalismo hindu na Índia.
No estado de Jharkhand o partido nacionalista hindu BJP tinha o controlo da Assembleia Estadual e, nessa qualidade, já tinha interposto um recurso contra o padre Swamy pelas suas críticas ao poder político e ativismo. Contudo, em 2019 o BJP perdeu a maioria e o novo Governo, formado por partidos indígenas, retirou o processo.
“Agora ele foi detido pela Agência Nacional de Investigação, que é um órgão nacional, que responde perante o Governo central. Estão a usar como desculpa um evento que ocorreu perto de Bombaim, onde ele nunca esteve. O resultado é que o Governo estadual já não pode fazer nada sobre o assunto. Estão a usar a ANI para suprimir estas vozes e criar medo entre as pessoas para que não defendam os vulneráveis.”
O padre Xavier não descarta a possibilidade de haver também uma dose de hostilidade por se tratar de um padre católico, sobretudo tendo em conta que a Igreja sempre levantou a voz contra os maus-tratos e atropelos de que os indígenas são alvo na Índia, mas diz que isso não é o principal.
“A Igreja é uma das vítimas aqui, mas isto é acima de tudo um atentado aos direitos humanos e aos direitos dos indígenas e aos defensores destes direitos, que criticam o Estado que os oprime. Isto está errado, é condenável e não podemos concordar. É contra qualquer lei de qualquer nação.”
“Não é apenas uma questão de discriminação por ele ser cristão, embora isso também possa ser um factor, porque a Igreja tem feito um ótimo trabalho entre as tribos e os dalits, e por isso querem silenciá-la, mas não é só a Igreja, eles atacam qualquer voz que se eleve pelos direitos dos mais vulneráveis”, conclui o padre, que vive agora em Roma.
Os jesuítas em todo o mundo lançaram uma campanha para alertar para a situação do padre Swamy e está em curso uma recolha de assinaturas que já conta com mais de 5.200, incluindo a do superior dos jesuítas em Portugal, o padre Miguel Almeida.