A contagem de votos nas eleições intercalares norte-americanas, ou "midterms", continuava esta quarta-feira de manhã, mas havia já várias vitórias históricas a ser assinaladas antes de se perceber qual será a formação do próximo Congresso dos EUA, a dois anos das presidenciais -- a começar pela vitória histórica das mulheres em alguns estados.
Comecemos pela democrata Kathy Hochul, que conseguiu derrotar o rival republicano e que se torna agora a primeira mulher eleita governadora do estado de Nova Iorque. Hochul já era governadora interina desde que Andrew Cuomo resignou ao cargo em 2021, conseguindo firmar essa posição nas urnas.
"Esta noite as vossas vozes fizeram-se ouvir alto e bom som e fizeram de mim a primeira mulher eleita governadora do estado de Nova Iorque. Mas eu não estou aqui para fazer história, estou aqui para fazer a diferença."
Durante a campanha, adiantou a nova governadora, "senti um peso nos meus ombros para garantir que todas as meninas e mulheres do estado que tiveram de embater contra tetos de vidro onde quer que vão saibam que uma mulher pode ser eleita por si própria e governar com sucesso um estado tão duro e desafiante como Nova Iorque".
Hochul conseguiu derrotar o congressista republicano Lee Zeldin, aliado de Donald Trump que focou a sua campanha no combate ao crime violento. Ao contrário de outras, a sua vitória não foi uma das surpresas da noite. Isto não só porque Nova Iorque tem o dobro de eleitores democratas do que republicanos, mas também porque os nova-iorquinos não elegem um governador republicano desde 2002.
Primeiro negro a governar Maryland
No estado do Maryland, o democrata Wes Moore tornou-se o primeiro governador afroamericano do estado e o terceiro negro a ocupar um cargo de governador na história dos EUA.
"Quando os nossos dias são dominados pelo cinismo e a desconfiança, num momento em que é tantas vezes dito aos que, entre nós, esperam fazer parte da solução que temos de esperar pela nossa vez, vocês acreditaram", declarou aos apoiantes mal a sua vitória foi confirmada. "Acreditaram que neste momento o nosso estado não pode esperar pela sua vez, e acreditaram no filho de um imigrante."
Moore conseguiu derrotar o candidato republicano Dan Cox, um ferveroso defensor de teorias da conspiração descrito pelo até agora governador do Maryland, o também republicano Larry Hogan, como um "doido do QAnon".
Ex-assessora de Trump eleita governadora
Tal como Hochul em Nova Iorque, também a ex-assessora de imprensa da Casa Branca, Sarah Huckabee Sanders, fez história enquanto primeira mulher eleita governadora do Arkansas.
Sanders derrotou o nomeado democrata Chris Jones numa corrida definida quase desde o início, num estado predominantemente republicano e onde a popularidade de Donald Trump continua alta.
Filha do ex-governador Mike Huckabee, a nova responsável máxima do Arkansas bateu o recorde do estado em dinheiro gasto numa campanha sobretudo focada em assuntos nacionais, não locais, durante a qual prometeu combater o Presidente Joe Biden e a "esquerda radical"
No seu discurso da vitória, contudo, não fez qualquer menção ao ex-Presidente nem ao atual.
"Esta eleição era sobre levar o Arkansas até ao topo. Eu sei que o Arkansas pode ser o primeiro e estou empenhada em ser a líder que nos leva até lá."
Primeira lésbica a governar um estado dos EUA
No Massachusetts, fez-se história mas de outra forma: a democrata Maura Healey, até agora procuradora-geral do estado, foi eleita governadora, sendo a primeira mulher abertamente lésbica a ser eleita para este cargo em toda a história dos EUA.
No discurso da vitória declarou:
"Aos que votaram em mim e aos que não votaram em mim: quero que saibam que serei governadora de todos e que trabalharei com todos os que estejam dispostos a fazer a diferença neste estado. Quero dizer a todas as meninas e a todos os jovens LGBTQ que esta noite mostra que podem ser quem quiserem e que nada nem ninguém pode travar-vos."
A eleição de Healey marca o retorno da governadoria do Massachusetts aos democratas depois de oito anos sob liderança republicana, com o popular Charlie Baker, que optou por não se recandidatar ao cargo. Nas urnas, Healey acabou a derrotar Geoff Diehl, ex-congressista que contou com o apoio formal de Trump nestas eleições.
Doutor Oz derrotado
Depois de uma tumultuosa campanha na Pensilvânia, um dos estados-chave para os democratas conseguiram manter o controlo do Senado, o candidato do partido ao Senado federal, John Fetterman, conseguiu derrotar o rival republicano, o famoso dr. Mehmet Oz, que ganhou popularidade no programa de Oprah Winfrey e que contou com o patrocínio de Donald Trump nestas eleições.
No discurso da vitória, o novo senador democrata, que sofreu um AVC poucos meses antes da ida às urnas, destacou que a sua campanha foi dedicada "a lutar por todos aqueles que já foram mandados ao chão e que conseguiram reerguer-se".