O Banco de Portugal (BdP) avança que estão a correr 458 processos na Justiça contra o Banco Espírito Santo (BES), em Portugal e no estrangeiro, destacando que as responsabilidades litigiosas não foram transferidas para o Novo Banco.
Em Portugal, estão a correr um total de 337 processos judiciais, dos quais 95 já existiam antes de 3 de Agosto de 2014, dia da resolução do BES, e 242 iniciados já depois desta data.
Somam-se-lhes 44 processos administrativos (42 nas Finanças, um no município de Oeiras e o outro no município do Seixal) e quatro processos de contra-ordenação na Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), o que perfaz um número global de 385 processos nos tribunais portugueses.
No estrangeiro, existem 72 processos (judiciais, administrativos e contra-ordenacionais), a que se soma um processo que corre num tribunal arbitral, na Câmara Comércio Internacional de Paris, num total de 73.
Destes, 68 estão a ser julgados em Espanha, dois em Inglaterra e outros dois na Venezuela, além do já mencionado processo que corre em França.
A informação consta nos documentos disponibilizados esta quarta-feira pelo supervisor bancário, referentes à reunião do Conselho de Administração que decorreu a 29 de Dezembro último e respectiva deliberação, a qual conta com "as rectificações formais aprovadas em 12 de Janeiro de 2016", isto é, na terça-feira.
"O Banco de Portugal considerou ser proporcional e de interesse público não transferir para o banco de transição [Novo Banco] as responsabilidades contingentes ou desconhecidas do BES (incluindo responsabilidades litigiosas relativas ao contencioso pendente e responsabilidades ou contingências decorrentes de fraude ou da violação de disposições ou determinações regulatórias, penais ou contra-ordenacionais), independentemente de se encontrarem ou não registadas na contabilidade do BES", lê-se no documento.
O BdP vincou que esta decisão foi tomada "uma vez que a certeza relativamente às responsabilidades do banco de transição é essencial para garantir a continuidade das funções críticas desempenhadas pelo Novo Banco e que anteriormente tinham sido desempenhadas pelo BES".
Banco de Portugal identifica riscos para a resolução do BES
O Banco de Portugal alerta que, caso os tribunais judiciais considerem que as responsabilidades com os processos que existem contra o BES devem passar para o Novo Banco, a eficácia da medida de resolução fica em risco.
"Se o número de processos pendentes nos tribunais judiciais e a diferente orientação nas decisões até hoje tomadas conduzirem a que, de modo significativo, não venha a ser reconhecida adequadamente a selecção efectuada pelo Banco de Portugal (enquanto autoridade pública de resolução) dos activos, passivos, elementos extrapatrimoniais e activos sob gestão transferidos do BES para o Novo Banco (...), pode ficar comprometida a execução e a eficácia da medida de resolução aplicada ao BES", lê-se num documento hoje libertado pelo supervisor.
A entidade liderada por Carlos Costa assinalou que "caso viessem a materializar-se na esfera jurídica do Novo Banco responsabilidades e contingências por força de sentenças judiciais, o Novo Banco seria chamado a assumir obrigações que de modo algum lhe deveriam caber e cuja satisfação não foi pura e simplesmente tida em consideração no montante do capital com que aquele banco de transição foi inicialmente dotado".
Mais, "este risco pode materializar-se ainda antes do trânsito em julgado das decisões judiciais se, de acordo com as regras contabilísticas, for entendido que, não obstante a decisão do Banco de Portugal, aquela materialização é provável", frisou.