Portugal não tem uma estratégia eficaz para promover a integração das pessoas com deficiência, alerta o sociólogo Luís Capucha, em declarações à Renascença.
Em causa está a dificuldade na expansão da medida de apoio à vida independente, que permite que os portadores de incapacidade possam beneficiar da ajuda de assistentes pessoais para as tarefas do dia a dia que não são capazes de desempenhar.
"Atualmente, serão mil e poucas pessoas a beneficiar desta medida, por isso estamos a falar de um universo ainda bastante reduzido", uma vez que "há muita gente que também desconhece a existência destes assistentes pessoais".
No dia em que o ISCTE inaugura o Núcleo de Estudos da Deficiência em Portugal, Luís Capucha, professor naquele instituto, lembra que esta medida "continua a ser financiada, essencialmente, por fundos estruturais", logo, "não tem garantia de continuidade para além desses fundos estruturais".
O que significa, acrescenta o docente, que "não há, neste momento, no horizonte nenhuma ameaça que ela venha acabar no curto ou no médio prazo para as pessoas que já beneficiam desta medida".
Contudo, a expansão da medida para um universo mais alargado de beneficiários pode ser mais difícil, mas tudo depende da "ambição política" dos decisores para "ultrapassar vários obstáculos".
"Um deles é a demonstração de que custa mais à sociedade colocar pessoas com deficiência num centro de atividades ocupacionais, do que pô-las ativas e em condições de trabalhar", exemplifica.
"KIT Direitos Humanos". Uma espécie de 'Monopólio com Jogo da Glória' pela inclusão
A partir de hoje, as escolas do ensino básico e secundário vão receber o "KIT Direitos Humanos", um jogo de tabuleiro com o objetivo de estimular a inclusão e os direitos humanos das pessoas com deficiência e com autismo.
O projeto desenvolvido em conjunto por investigadores do ISCTE e pela associação Inovar Autismo teve uma fase piloto em escolas nos concelhos de Almada, Barreiro e Palmela.
"É uma espécie de Monopólio misturado com Jogo da Glória em que os jogadores avançam em função das respostas certas que vão dando em matéria de inclusão e de direitos humanos das pessoas com incapacidade", explica Luís Capucha.
Por outro lado, "queremos que os jovens com deficiência se sintam capacitados para serem mais autónomos e para terem uma melhor perceção de si próprios".
O investigador identifica na sociedade portuguesa "um défice considerável em relação à inclusão das pessoas com deficiência", que acaba por se traduzir em "baixas habilitações, desemprego elevado que acabam por ter como consequência a sua institucionalização".