O Bloco de Esquerda (BE) de Lisboa considera "inaceitáveis" as declarações do presidente da câmara, Carlos Moedas, sobre o abandono do projeto da Feira Popular, na freguesia de Carnide, acusando-o de "desistir de governar" para quem vive na cidade.
"O presidente da Câmara Municipal de Lisboa diz que estes espaços de diversões não fazem sentido na cidade porque desistiu de governar para quem aqui vive, concentrando-se apenas no turismo e no imobiliário", afirma o BE, em comunicado.
Em entrevista à Renascença, o social-democrata Carlos Moedas disse que é preciso repensar o conceito de Feira Popular, considerando que "parques de diversão no centro de cidade não fazem o mesmo sentido que faziam no passado".
Carlos Moedas defendeu ainda que o projeto deve priorizar a construção de "um parque verde com equipamentos para as pessoas", com a possibilidade de uma parte do espaço na freguesia de Carnide ter alguns equipamentos de diversão.
As ideias do autarca do PSD já estavam inscritas no programa eleitoral da coligação Novos Tempos (PSD/CDS-PP/MPT/PPM/Aliança), com o qual conquistou a presidência da Câmara de Lisboa nas autárquicas de 2021 e em que se comprometeu a "transformar o atual projeto da Feira Popular", apresentado em 2015 pelo anterior executivo camarário sob a presidência do socialista Fernando Medina, "para prever um novo parque urbano, com equipamentos de lazer e desporto, incluindo uma nova piscina exterior natural em Carnide, de grande dimensão, ambientalmente inovadora".
Em comunicado, o Bloco de Esquerda refere que "as declarações de Carlos Moedas sobre o abandono do projeto da Feira Popular em Carnide são inaceitáveis", lembrando que a antiga Feira Popular de Lisboa, em Entrecampos, na freguesia das Avenidas Novas, "foi durante seis décadas uma referência para várias gerações de lisboetas que ali encontravam um espaço de diversão, lazer e festa".
O parque de diversão no centro da capital portuguesa foi encerrado em outubro de 2003, "fruto da enorme pressão imobiliária sobre os terrenos de Entrecampos", indicam ainda os bloquistas, acrescentando que, desde essa data, a cidade ficou sem um espaço dessa natureza com a escala e as características da Feira Popular de Lisboa.
Recordando o projeto de uma nova Feira Popular em Carnide, apresentado em novembro de 2015 por Fernando Medina, o Bloco, que tinha no anterior mandato municipal um acordo de governação do concelho com os socialistas, reforça que "este equipamento, pelas suas características, serviria a população de Lisboa e não apenas os turistas".
"Se a ideia de Carlos Moedas avançar, as famílias e as crianças de Lisboa ficam com menos equipamentos e perdem-se os milhões que se previam de investimento", aponta o BE, referindo que o projeto implicaria investir 70 milhões de euros.
O Bloco de Esquerda lembra que "sempre defendeu que a Feira Popular devia voltar integrada num espaço requalificado que conciliaria um grande parque urbano com área de diversões populares", ressalvando que, da mesma forma, sempre criticou "a falta de clareza do PS" sobre o formato e envolvimento de privados no projeto.
"Ao contrário do abandono do projeto da Feira Popular em Carnide, este devia ser o momento de recriar a Feira Popular com zona de divertimentos e um grande parque urbano aberto ao público, com boa oferta de transportes públicos", salienta.
O Bloco assegura não desiste deste objetivo, pelo que apresentará propostas na câmara e na assembleia municipal para que Lisboa não perca a Feira Popular e questionará Carlos Moedas sobre o destino que dará aos terrenos em Carnide.
A Lusa questionou o gabinete do presidente da Câmara de Lisboa sobre a alteração ao projeto da futura Feira Popular em Carnide, aguardando ainda uma resposta.
O projeto foi anunciado em 3 de novembro de 2015 e as obras arrancaram um ano depois, com as demolições dos edifícios existentes no terreno localizado na freguesia de Carnide, para criar um parque urbano de 20 hectares.
Em março de 2021, o então presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, disse que o parque verde da futura Feira Popular deveria abrir "antes do verão", justificando o atraso na obra com a pandemia de covid-19 e revelando o objetivo de lançar ainda nesse mandato o concurso relativo à concessão para a operação do equipamento.