O arcebispo de Évora diz-se “chocado” com a possibilidade de a Assembleia da República legalizar a eutanásia, ao arrepio da Constituição que refere a “vida como bem inalienável” e sem um debate alargado e esclarecedor que chegue a todos os portugueses.
“Suas Excelências os deputados da Assembleia da República (AR), quando foram eleitos não era para aprovar a eutanásia e agora arrogam-se o direito de falar e decidir em nome de 10 milhões de portugueses?”, questiona D. José Alves que falava aos jornalistas, em Évora, à margem da apresentação da mensagem do Papa Francisco para mais um Dia Mundial das Comunicações Sociais.
O prelado considera que a “vida não é referendável”, mas “entre dois males” que se opte “por um menor”.
“Entre decidir dentro das quatro paredes da Assembleia e fazer um referendo, bom, pelo menos um referendo levaria a que as pessoas pudessem discutir o assunto e ser esclarecidas”, defende o arcebispo que comunga da mesma opinião que o presidente da República quanto à necessidade de um debate aprofundado antes de qualquer decisão definitiva.
D. José Alves lembra que “ninguém é dono da vida” e pensar que a decisão de uma “questão tão fundamental” pode ser tomada por grupo circunscrito, remete para tempos que envergonham a História.
“Pôr nas mãos do Estado essa possibilidade de dar fim à vida das pessoas, sem mais, bem, eu para mim faço uma aproximação a algo que todos nós condenámos, que existiu no século passado, o chamado Holocausto”, refere.
Sem recear as palavras, o arcebispo de Évora questiona, ainda: “Então quando as pessoas deixam de ter um valor no sentido económico e produtivo, para a sociedade, deixam de ter direito de viver? Por amor de Deus, não posso concordar com isso”, desabafa.
“A AR é o órgão de onde emanou a Constituição da República”, salienta, esperando-se que “sejam os primeiros a cumprir. Isto choca-me”, confessa, ainda.
No encontro com os jornalistas, o prelado recorda que a Igreja está a fazer o seu papel, esclarecendo as pessoas embora considere que “a questão da eutanásia não é uma questão da igreja”.
“Não é uma questão religiosa, é uma questão humana, vital” apesar da Igreja ter a sua posição. “E a posição é um ‘não’ e eu também - não por ser bispo - entendo que a vida é um bem inalienável e que ninguém pode dispor dele”, conclui D. José Alves.