João Gonçalves Pereira, presidente da distrital de Lisboa do CDS, queria e estava disponível para ser candidato a vereador na lista de coligação liderada por Carlos Moedas. Tão disponível que abdicou do lugar de deputado para se dedicar exclusivamente a desempenhar o lugar de vereador nos últimos meses deste mandato.
Contudo, a direção de Francisco Rodrigues dos Santos preferiu indicar Filipe Anacoreta Correia. E a escolha desencadeou uma sucessão de reações de antigos dirigentes do partido. Esta sexta-feira foi o próprio Gonçalves Pereira a reagir, deixando bem claro que não é candidato por “opção exclusiva” da direção do CDS e remetendo para o próximo congresso a sua resposta.
“Acerca da decisão da atual direção do partido, que foi contra os órgãos distritais e concelhios democraticamente eleitos pelos militantes do CDS-PP, creio que a sua ação fala por si. No entanto, sobre as consequências das suas ações, falarei publicamente somente após as eleições locais. E, preferencialmente, em congresso”, escreveu João Gonçalves Pereira no seu perfil na rede social Facebook.
Na mesma publicação, o ainda vereador quis deixar claro que apoia a escolha do atual deputado municipal Diogo Moura agora para a lista de vereação. E também volta a manifestar o sue apoio à candidatura de Carlos Moedas. “Como alguém que fez oposição à gestão socialista da Câmara Municipal de Lisboa, não poderia deixar de manifestar o meu apoio àqueles que, em setembro, têm todas as condições para finalmente a vencer”, escreve Gonçalves Pereira.
Desconforto de isabel Galriça
Já na quinta-feira vários ex-dirigentes e até atuais candidatos autárquicos usaram as redes sociais para manifestar a sua indignação com as escolhas da direção de Francisco Rodrigues dos Santos. O desconforto chegou, inclusive, à cabeça de lista à Assembleia Municipal, a médica e ex-deputada isabel Galriça Neto.
“É muito delicado para mim, que pretendo servir Lisboa, ajudar o CDS e o Carlos Moedas, mas não pactuo com esta forma de estar e de pretensamente liderar. Triste…”, escreveu Galriça Neto num comentário a uma publicação de José Seabra Duque.
“Com esta decisão a direção do CDS pode vir a ganhar terreno na guerra civil que destrói o partido. Infelizmente esta ‘vitória’ enfraquece o CDS e Lisboa fica a perder. E perde também a direção, que tinha aqui uma oportunidade de ouro para mostrar que, ao contrário de muitos dos seus opositores, coloca o bem comum à frente dos seus interesses”, escreve Seabra Duque, membro da comissão política do CDS-Lisboa, que acusa a direção do partido de “afastar os opositores (não foi apenas o João Gonçalves Pereira) e dar lugares aos amigos, enquanto se fingia deliberar”.
A decisão da direção nacional levou mesmo a pelo menos uma demissão na comissão política distrital, a de José Bourbon Ribeiro, um antigo assessor de Paulo Portas. “O CDS acumula erros atrás de erros, exclui os seus melhores, não tem respostas nem timbre de voz para a nova realidade da direita portuguesa, perdeu alma, identidade e afirmação, e não lhe sobra qualquer relevância política. Os atuais dirigentes do CDS apelam há muito tempo a uma unidade das forças internas, mas no fundo não querem união nem apoio: andam, desde o congresso, à procura de quem lhes dê colinho”, escreveu Bourbon Ribeiro no Facebook, onde anunciou a sua demissão de vogal da distrital.
“O Partido onde milito há 30 anos é um partido que inclui todos, que soma, que aproveita todas as competências desenvolvidas ao longo dos anos e que apresenta a eleições os seus melhores. As escolhas agora feitas, nomeadamente para a CML, resultam de um ajuste de contas inexplicável, de uma visão sectária do Partido, que em nada aproveitará à candidatura de Carlos Moedas e à representação do CDS nos futuros órgãos de gestão do município de Lisboa”, acrescenta Bourbon.
Saneamento e covardia, acusam ex-dirigentes
A indignação estendeu-se a João Almeida, adversário de Francisco rodrigues dos Santos no congresso de 2020 e atual deputado. “O saneamento partidário do melhor vereador da Câmara de Lisboa prejudica gravemente o CDS e fere a candidatura que o CDS integra. O João Gonçalves Pereira não merecia esta vingança cobarde”, escreveu João Almeida, que lidera a lista da coligação CDS-PSD à Câmara de São João da Madeira.
“O Carlos Moedas, que prezo e é um ótimo candidato, também não merecia este péssimo serviço prestado pelo CDS. Não só por ter afastado o melhor, como pela escolha que fez para o seu lugar. Mas sobre essa inenarrável escolha falarei nos órgãos próprios do partido. Com um abraço solidário ao João Gonçalves Pereira e outro de alento ao Carlos Moedas, regresso à minha campanha sanjoanense, onde os candidatos do CDS foram todos escolhidos pela respetiva concelhia”, remata João Almeida.
Quase ao mesmo tempo, também Adolfo Mesquita Nunes, que ainda recentemente desafiou Francisco Rodrigues dos Santos para um congresso extraordinário, manifestou a sua indignação. “Num partido que valoriza as bases, veta-se não um, mas vários! dos nomes que as estruturas locais propuseram. Num partido que valoriza o trabalho, veta-se quem trabalhou e deu a cara pelo CDS em Lisboa. O Carlos Moedas, que é um excelente candidato, merecia mais: merecia que o CDS não tivesse saneado alguns dos seus melhores, dos que mais conhecem o terreno, dos que mais trabalharam por Lisboa”, escreveu no Facebook.
“Uma lista do CDS sem a presença do João é uma lista mais pobre, que não reconhece o mérito, a sensibilidade social, a capacidade de trabalho e o conhecimento dos temas de alguém que já deu e quer continuar a dar o melhor de si à sua cidade. Promover o mérito, a sensibilidade social, a capacidade de trabalho e o conhecimento dos dossiers podia ser um lema do CDS. Com esta exclusão fizeram exatamente o seu contrário”, já tinha publicado o ex-dirigente e ex-ministro Luis Pedro Mota Soares.