Cardeal Mindszenty com uma estátua em Fátima
23-06-2023 - 06:00
 • Aura Miguel

A iniciativa parte da Associação Portugal-Hungria para a Cooperação e conta com o apoio da embaixada húngara no nosso país.

O cardeal húngaro József Mindszenty, duramente perseguido pelo regime soviético, foi preso e, depois de libertado, refugiando-se mais tarde na embaixada dos Estados Unidos, em Budapeste, onde permaneceu vários anos - exilado dentro do seu próprio país.

Homem de referência na história católica do povo húngaro, passa a ter, a partir de agora, uma estátua em Fátima, junto ao "Calvário húngaro”.

A iniciativa parte da Associação Portugal-Hungria para a Cooperação e conta com o apoio da embaixada húngara no nosso país.

Numa entrevista à Renascença, Miguel de Pape, presidente da referida Associação, explica a razão de ser desta iniciativa

Que tipo de homenagem vai ser esta?

A estátua foi feita por um artista húngaro e vai ser colocada no início da Via Sacra, como forma de homenagem a uma figura importante da Igreja, que sofreu muito. Trata-se de uma figura da resistência contra o regime autoritário soviético que ocupou o poder na Hungria depois da segunda guerra mundial. Mindszenty sofreu um processo de perseguição e esteve preso até 1956.

Mas depois refugiou-se na embaixada dos Estados Unidos…

Sim, com a Revolução Húngara de 1956, ele foi libertado, mas, com medo de vir a ser preso novamente, o cardeal Mindszenty refugiou-se na embaixada dos Estados Unidos, onde ficou cerca de 15 anos. Só em 1971 saiu do país e foi viver em Roma.

Porque é que esta Via Sacra, também chamada Calvário húngaro, está tão ligada à Hungria?

Por uma razão muito simples: foi uma ideia e um projeto de húngaros na diáspora e de padres húngaros. A ideia surgiu 1951, apresentaram-na ao reitor do Santuário e foi muito bem recebida, pois, nessa altura, em Fátima, não havia nenhuma Via Sacra…

A Mensagem de Fátima também refere os chamados “erros da Rússia”, espalhados por esses países do Leste, onde se inclui a Hungria.

Sim, sobretudo na Hungria e na Áustria, há uma forte devoção à Mensagem de Fátima e a tudo o que ela representa. É preciso entender que a Hungria foi toda ocupada e uma parte da Áustria também. Desencadeou-se então, nos anos 1950-51, uma grande campanha e um movimento de oração fortíssimos e, por isso, as comunidades húngaras sempre mantiveram uma profunda devoção a Fátima e à Mensagem de Nossa Senhora.

Mais tarde, o próprio Cardeal Mindszenty esteve em Fátima…

Ele foi libertado em 1971 e, em 1972, veio a Portugal e presidiu em Fátima às cerimónias do 13 de Outubro. É, de facto, relevante a sua presença em Fátima, pois, sendo reconhecido como uma figura da resistência ao comunismo, marcou muitos católicos e recebeu sempre muita simpatia e carinho por parte dos portugueses.

Como está o seu processo de beatificação?

Está a decorrer, já foi designado “venerável” pelo Papa Francisco. Portanto, agora é preciso rezar para que venha um milagre para o processo avançar. É também por isso que vamos começar o nosso evento deste sábado, dia 24, com uma missa na capela de Santo Estêvão, no Calvário húngaro.

A Associação Portugal-Hungria para a Cooperação também tem no seu currículo uma iniciativa em honra do outro húngaro, protagonista do processo de beatificação dos Pastorinhos, que é o padre Kondor.

Sem dúvida, o padre Luís Kondor uma figura incontornável, tem a ver com a identidade desta Associação e com o evento deste sábado. A forte presença húngara em Portugal está ligada a Fátima e isso deve-se muito à à figura do padre Kondor, que foi postulador da causa de beatificação dos Pastorinhos Francisco e Jacinta Marto. Ele foi uma figura incontornável no projeto do Calvário e da Via-Sacra. Aliás, em sua homenagem, a nossa Associação, com o apoio da Embaixada húngara, inaugurou há uns anos uma estátua do Padre Kondor na Praça Luís Kondor, em Fátima, com a presença do Presidente da Hungria e do arcebispo de Budapeste.

Como vão ser as celebrações de sábado?

Começam com a missa às 9h30, na Capela de Santo Estêvão, que se encontra no final do percurso da Via-Sacra. Depois, às 11h00, vamos inaugurar a estátua do cardeal József Mindszenty no largo que assinala o início do percurso da Via-Sacra, antes da primeira estação. Tudo isto, com o apoio do Reitor do Santuário a quem muito agradecemos.

Para encerrar da melhor maneira, haverá, pelas 15h30, um concerto de órgão na basílica de Nossa Senhora do Rosário, pelo organista principal da Basílica Santo Estêvão, em Budapeste