Uma das consequências da guerra é o aumento dos preços dos alimentos. Tendo em conta que Portugal importa muitos cereais da Ucrânia, é inevitável que os aumentos cheguem às prateleiras dos supermercados.
Mais de metade dos quase 300 milhões de euros que Portugal importa da Ucrânia são relativos a cereais. E a Ucrânia é mesmo o maior fornecedor de milho para rações de animais e, por isso, devido à guerra, Portugal está a procurar outros mercados. Depois, ainda é preciso juntar a subida história do preço dos combustíveis.
Nesta altura, ainda é pouco percetível o impacto nos preços dos bens alimentares, mas já existem sinais preocupantes.
Segundo uma análise pedida pela Renascença à Associação Portuguesa Para a Defesa do Consumidor, um cabaz de 63 produtos alimentares essenciais custa, agora, em média, mais um euro e 20 cêntimos do que nos primeiros dias de janeiro. Representa uma subida de 0,7% em seis semanas, o que não tem paralelo nos últimos 10 anos.
O diretor da Área de Produtos e Serviços da Deco Proteste identifica as três categorias alimentares que mais contribuíram para esta aumento do preço do cabaz alimentar. “Algumas categorias que variam de uma forma mais pronunciada e que, certamente, os portugueses estão a sentir, nomeadamente o caso da carne, mercearia e congelados, essa variação atingiu 2% - o que é, naturalmente, um valor extremamente elevado”, indica Vitor Machado.
“Se tudo se mantiver com este ritmo, podemos chegar a valores de dois dígitos, portanto, à volta dos 15%”, alerta.
Esta perspetiva é preocupante. “Estamos a falar do pão, arroz, azeite, óleo, açúcar, conservas e cereais. Esta é uma categoria que está efetivamente a crescer, com valores muito, muito preocupantes”, realça.
ASAE no terreno para evitar especulação de preços
Para garantir que não vai haver especulação de preços, a Autoridade de Segurança Alimentar e Económica já está no terreno, como diz à Renascença o inspetor-geral da ASAE.
“A ASAE, neste momento, naturalmente que está a fiscalizar. E integra-se na fiscalização a recolha de informação, que é o primeiro passo para termos uma avaliação de conjunto”, adianta Pedro Portugal Gaspar, assegurando que a situação vai ser acompanhada, “seja em matéria de informação, seja, depois, em matéria de fiscalização que estará no terreno, diariamente, em várias atividades. E esta, naturalmente, passou a integrar o radar”.
Diz ainda que os inspetores vão também estar atentos às eventuais ruturas de stock, uma manobra que também pode servir para aumentar os preços dos produtos.
“Se houver ruturas de stocks ou ruturas de fornecimentos com alguma durabilidade ou estabilidade, pode haver aqui um porquê é que isso acontece. Então, há que avaliar se o motivo dessa situação é por uma contenção na venda para ser colocado mais tarde a um outro preço, que é uma das formas, digamos, de branqueamento pelo próprio vendedor, ou se houve aqui uma aquisição repentina em grande quantidade recente - que também, documentalmente, se consegue fazer a rastreabilidade e perceber o destino dessa situação”, explica o inspetor-geral.
A ASAE avisa que a subida também pode ter a ver com a lei da oferta e da procura.