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Apesar de reconhecer uma evolução do programa socialista em relação ao Orçamento do Estado, o presidente da CIP - Confederação Empresarial de Portugal admite, em entrevista à Renascença, que “o programa da AD se aproxima mais daquilo que foram as propostas que a CIP apresentou”, para alavancar a economia nacional.
O argumento de peso na balança de Armindo Monteiro, para dizer que o programa da AD está mais próximo das posições da CIP, é a descida da carga fiscal proposta pela AD: “seja no IRS, seja no IRC”.
Relativamente às propostas do líder socialista Pedro Nuno Santos, o "patrão dos patrões" reconhece que, perante a escassez de recursos, os apoios do Estado devem ser canalizados de forma mais intensa para os setores verdadeiramente transformadores. Mas deixa um aviso: "esse processo tem que ser amplamente debatido e amplamente escrutinado”.
Noutro plano, o presidente da CIP estranha a inexistência de um mínimo de convergência entre os dois maiores partidos, "a bem do país". Quanto a coligações, alerta: não pode ser uma questão de aritmética, que comprometa aos interesses de poucos, a vida de muitos.
Certamente já leu os programas eleitorais do PS e da AD. Também já esteve com Luís Montenegro e com Pedro Nuno Santos na conferência da CIP, no Porto. Qual das duas propostas se aproxima mais das posições da CIP?
Em relação ao Orçamento do Estado, o programa apresentado pelo Partido Socialista creio que, efetivamente, se aproxima mais de um país com um dinamismo económico, com preocupação de investimento e com atrair e reter os mais jovens e o talento.
No entanto, reconheço no programa da AD um maior dinamismo e maior aproximação àquilo que foram as propostas que a CIP apresentou. Por exemplo, na questão do IRC. Quanto a essa medida concreta do programa da AD, o PS não está a acompanhar.
Na prática, o que está a dizer é que o programa da AD se aproxima mais dos interesses dos empresários?
Ambos os programas convergem para a necessidade de um crescimento económico. No entanto, o programa da AD aproxima-se mais daquilo que foram as propostas que a CIP apresentou, e que pretendem fazer crescer a economia nacional. Isso vê-se, seja no IRS, seja no IRC, seja na capacidade de retermos os nossos jovens. É que, se nada for feito, não vão ficar em Portugal.
Quanto às propostas do Partido Socialista, Pedro Nuno Santos quer passar a dirigir os apoios financeiros do Estado sobretudo para os setores economicamente mais interessantes. Ou seja, quer diferenciar, em vez de pulverizar subsídios. É uma boa estratégia?
A ideia da direção central da economia, é uma ideia que, naturalmente, nós, na CIP, não subscrevemos. Compreendemos, no entanto, a virtude daquilo que afirma o secretário-geral do PS. É importante, tendo recursos escassos, que eles sejam aplicados de forma intensa em setores que sejam verdadeiramente transformadores. Estamos de acordo.
Agora, existem dois desafios: Como escolher os setores. Ou seja, esse processo tem que ser amplamente debatido e amplamente escrutinado.
Quando diz “escrutinado”, significa que há um risco de serem favorecidos, eventualmente, os amigos?
Desde logo tem que ser debatido. Ou seja, quem é que vai decidir quais são os setores estratégicos? Vai ser um pequeno grupo político-partidário, um “Petit Comité”, ou vai ser uma verdadeira discussão na sociedade portuguesa, onde vão entrar também e empresas, confederações empresariais e outros “stakeholders” da sociedade portuguesa?
Se assim for, perfeito. E depois, o escrutínio, que é verificar se a convergência anterior está, efetivamente, a ser cumprida. Aquilo que nós verificámos é que, muitas vezes, estas decisões são tomadas em Petit Comité, e perde-se a lógica do bem comum.
Dos dois líderes, Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos, qual deles lhe parece – na leitura da CIP - mais capaz de avançar com as medidas estruturais necessárias e, por outro lado, aproveitar, de uma forma mais eficaz, o muito dinheiro que nos chega do PRR?
Estando em contexto eleitoral, entendo que a CIP e o presidente da CIP não devem formular esse tipo de juízos. Creio, sobretudo, que a evolução de Portugal vai depender de uma visão, e vai depender de uma equipa para o construir. Porque, isto é demasiado sério para ser deixado apenas aos interesses político-partidários.
Eu defendo que a sociedade civil tem que ser exigente com os programas, tem que ser exigente com as equipas e tem que ser exigente com os objetivos que se pretendem atingir. Mas, não é uma tarefa de um homem só. Não creio.
Não é uma tarefa de um homem só. E temos visto alguma falta de clareza sobre aquilo que acontecerá depois das eleições, nos diferentes cenários. Já ambos disseram (PS e PSD) que não tencionam reeditar um "bloco central". Seria, ou não, essencial haver uma concertação de posições, para que seja assegurado o interesse do país?
Causa-me uma certa estranheza que, de acordo com as últimas sondagens, 60% a 65% dos portugueses vão votar em dois projetos políticos: AD e PS. Portanto, causa-me estranheza que, a bem de Portugal, não haja um mínimo de entendimento de convergência para aquilo que urge fazer. Aquilo que eu infelizmente verifico é uma estratégia política, partidária, da qual os portugueses não são beneficiários.
Do seu ponto de vista, seria preferível para o país um Governo minoritário, seja da AD ou do PS, viabilizado pelo segundo maior partido? Ou coligações à esquerda, ou à direita?
Creio que nós, portugueses, já dissemos que estamos maioritariamente ao centro. Não estamos nem a extrema-esquerda, nem a extrema-direita.
Ou seja...
Depende da coligação. Precisamos, mais do que nunca, de soluções moderadas, transformadoras. De forma minoritária ou maioritária, tem que haver condições de governação para que exista uma linha, um rumo. O pior que pode acontecer é aquilo que nós, em Portugal, chamamos “ficar em águas de bacalhau”.
Portugal mais do que nunca, precisa de um rumo. Sendo concreto: Se um determinado partido, que tenha uma maioria relativa, e para completar essa maioria, ceder a partidos minoritários, vai impor tendências na maioria que são minoritárias. Certo? E isso significa que deve procurar coligações que aumentem, ainda mais, essa representatividade e não (resultem) apenas de uma questão tática, matemática aritmética...que é só preciso mais um, mais dois, mais três.
Portanto, eu gostaria que as maiorias se fizessem de forma muito representativa e não por um tacticismo eleitoral, que pode comprometer aos interesses de poucos a vida de muitos.