Apesar dos trágicos números de vítimas do vírus, as sondagens em Itália mostram apoio ao governo de Giuseppe Conte. A pandemia não beneficiou o populismo. Pode ser um fenómeno temporário, mas é um alívio.
Quando o coronavírus começou a manifestar-se em Itália com excecional virulência, sobretudo na Lombardia, receei que o governo de Giuseppe Conte não durasse muito mais tempo. Conte tinha sido primeiro-ministro do governo da Liga, de Matteo Salvini, e do movimento 5 Estrelas. Mas Conte manteve-se à frente do novo governo, no qual o Partido Democrático substituiu a Liga.
Agora na oposição, Salvini não poupou ferozes críticas ao executivo de Conte, acusando-o de não ter conseguido travar a pandemia. A Itália teve e tem uma impressionante quantidade de mortos. Politicamente, tudo parecia indicar que a pandemia iria recolocar o pós-fascista Salvini no poder. Este político assume-se como líder dos eurocéticos, populistas e defensores de regimes autoritários na Europa.
Afinal, as coisas felizmente não funcionaram assim. Apesar dos trágicos números de vítimas do vírus em Itália, as sondagens em Itália dão 62% a 71% de apoio ao governo de Conte.
“A epidemia não beneficiou o populismo”, escreveu no “Público” de sábado passado Jorge Almeida Fernandes, acrescentando: o vírus “provocou uma onda de ‘orgulho nacional’ e reuniu o país em volta do primeiro-ministro G. Conte. (...) A antipolítica saiu de cena”.
Parece existirem estudos sobre as reações aos desastres indicando que, ao contrário do que diria o senso comum, os acontecimentos catastróficos trazem à tona o que a humanidade tem de melhor – a solidariedade prevalece sobre o conflito.
A outra escala, incluindo em Portugal nota-se essa tendência (recorde-se a intervenção de apoio ao Governo do líder do PSD, Rui Rio, largamente aplaudida). Em França e Espanha, também o populismo, por vezes tão agressivo, se moderou com a pandemia.
Nada disto garante, porém, que o populismo em geral e Salvini em particular não regressem, uma vez ultrapassada a crise do vírus. Salvini, ao contrário de outros populistas, como Trump ou Bolsonaro, fez questão de não desprezar as opiniões dos peritos e dos cientistas, o que lhe dá alguma credibilidade. Seja como for, no meio desta desgraça, o recuo populista, embora provavelmente temporário, é um alívio.
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