“Israel não pode deixar de entrar militarmente no interior de Gaza, porque, de outra forma, nunca terá acesso à infraestrutura subterrânea que o Hamas foi construindo, diligentemente, ao longo de muitos anos”. A explicação é do general Arnaut Moreira, para quem, numa primeira fase as forças israelitas já terão atingido “grande parte dos seus alvos à superfície” em Gaza. No entanto, “grande parte da infraestrutura do Hamas é uma infraestrutura subterrânea”.
Em entrevista à Renascença, este especialista militar lembra que “existem duas Gazas”: “uma Gaza à superfície e uma Gaza subterrânea”. “Estima-se que serão, eventualmente, até algumas centenas de quilómetros de túneis que o Hamas foi construindo ao longo do tempo. Estes túneis destinam-se sobretudo a serem corredores de trânsito entre as várias instalações que estão à superfície”, e que “mantêm do ponto de vista externo, uma atividade comercial ou industrial absolutamente normal, mas que, na verdade, abrigam tudo aquilo que são os depósitos de munições, laboratórios e até centros de comando e controlo”.
Israel precisa proteger civis que o Hamas usa como escudo
Para o General Arnaut Moreira, “para que Israel possa continuar a ser apoiada pela opinião pública, precisa reduzir ao mínimo o número de vítimas civis”. Daí que tenha escolhido “uma zona específica”, o Norte da Faixa de Gaza, “para a sua intervenção militar”, uma vez que a concentração da população palestiniana a sul “permite que, através do Egito, possa chegar toda a ajuda humanitária”.
No entanto, “pelo menos desde 2007 que o Hamas usa os civis como escudos”, e Israel “sabe que a grande dificuldade desta operação não está na capacidade de resistência do Hamas, mas está, sobretudo, na capacidade do Hamas de se disfarçar de população civil e, por outro lado, de impedir que a população civil saia das zonas que se prevêem de intenso combate”.
Ninguém sabe quanto tempo vai durar a intervenção
O General Arnaut Moreira diz que nos últimos dias se viveu uma “espécie de guerra anterior”, ou uma “guerra pelo controlo da população”. Quanto ao tempo vai durar uma intervenção israelita em Gaza, este especialista militar diz que ninguém o sabe. No entanto, “Israel sabe que tem de ser relativamente rápida e obter resultados rápidos. Já o Hamas, o que vai tentar fazer é prolongar o combate, através deste conjunto muito grande de redes de túneis”.
“A federação russa também achou que, em três dias, tinha o problema resolvido” na Ucrânia. "O problema das guerras, hoje em dia, é que quando elas não se resolvem na primeira semana, depois eternizam-se e acabam, depois, por perder apoios de um lado e do outro”. Por isso, diz Arnaut Moreira, "quanto tempo é que isto vai demorar? Não sabemos”.