O Bispo de Angra alertou nesta quarta-feira para a necessidade de se combater a “religião de sofá e de pijama” e apelou a novas formas de se descobrir Deus na humanidade.
“Em muitas paróquias, diz-se que a pandemia fez crescer o individualismo e a tentação de uma religião ‘à medida, privada, de sofá, porventura também de pijama', indo à procura do que faz ‘sentir bem’”, reconheceu D. Armando Esteves Domingues na homilia da peregrinação de setembro.
Perante milhares de peregrinos, o bispo frisou que assistir na televisão ou acompanhar nas redes sociais as celebrações, em vez de celebrar juntos “é uma pobreza” e “um cruzar de braços” e que “é urgente combater o individualismo crescente e reconstruir as comunidades”.
Defendendo que “quando estamos juntos, tudo ganha mais cor e força”, o prelado lembrou a experiência da recente Jornada Mundial da Juventude, que deixou claro que “vale a pena valorizar tudo o que cria grupo, comunidade”.
Por isso, pediu às famílias que apostem nas comunidades paroquiais, escutem os mais novos e lhes deem lugar.
“Vi jovens a cantar, dançar, mas também de profundo silêncio”, “jovens sedentos de Deus e banhados em lágrimas porque tocados pelo amor de Deus”, constatou D. Armando Domingues, questionando: “Não será isto que a Igreja precisa?”
Aludindo a um estudo realizado por uma empresa de consultadoria que concluiu que 94% dos jovens que participaram na JMJ em Lisboa se queriam encontrar a si próprios através de Cristo, o prelado perguntou-se como é que a Igreja vai agora avançar e exortou os católicos a falarem da sua experiência, pois “há demasiados cristãos mudos”.
“As pessoas já não parecem sensíveis à dimensão religiosa ou reduzem-na a tradições ou eventos momentâneos, muitas vezes, mais culturais e sociais do que religiosos”, por isso “que botão pressionar, nesta época de eletrónica, de tecnologia, para sintonizar a onda perdida?”.
“Talvez precisemos de fazer descobrir, não Deus para além das estrelas, mas Deus cuja vida pulsa, se nós Lhe dermos espaço, nos nossos corações, nos nossos relacionamentos".
É que “Deus não intervém, com espalhafato, livrando-nos das desgraças, dos terramotos, das cheias, das guerras, mas intervém em Jesus, que tudo carrega até ao abandono, e com infinita delicadeza bate à nossa porta, nos fala e guia com o sopro do Seu espírito”.
A peregrinação de setembro antecede uma das maiores peregrinações do ano, a de outubro, que é também a última do calendário de peregrinações.