O Papa Francisco falou do seu percurso pessoal de “conversão ecológica” numa conversa com o italiano Carlo Petrini, fundador do movimento internacional ‘slow food’.
“Quando comecei a estudar, tomei consciência, abriu-se um mundo. Creio ser correto dar tempo a todos, para entenderem. Ao mesmo tempo, contudo, é preciso mudar rapidamente os nossos paradigmas se quisermos ter um futuro”, adverte Francisco, no livro ‘TerraFutura. Diálogos com Papa Francisco sobre ecologia integral’ (Editora Giunti-Slow Food), que vai ser publicado esta quarta-feira.
O portal de notícias do Vaticano divulga excertos da conversa com Petrini, agnóstico, promotor da rede internacional de ecologistas ‘Terra Madre’.
Francisco admite que, enquanto arcebispo de Buenos Aires, estranhava a “insistência com que os bispos brasileiros falavam dos grandes problemas da Amazónia” na Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e do Caribe, a Conferência de Aparecida, em 2007.
“Passou muito tempo e eu mudei completamente a perceção do problema ambiental”, assinala.
O livro resume três encontros entre o Papa e Carlo Petrini, que decorreram entre maio de 2018 e julho de 2020.
O primeiro encontro foi realizado com a presença do bispo de Rieti, D. Domenico Pompili, com quem Petrini criou as Comunidades ‘Laudato si’, inspiradas na encíclica ecológica e social que Francisco publicou em 2015.
O Papa destaca que a encíclica é fruto do trabalho de muitas pessoas, cientistas, teólogos e filósofos, confessando que desde cedo se apercebeu do impacto que o texto iria ter.
“Após o seu lançamento, vi que a maioria das pessoas, os que se preocupam com o bem da humanidade, leram e apreciaram [a encíclica], usaram-na, comentaram-na, citaram-na. Acho que foi quase universalmente aceite”, observa.
"O egoísmo tem de ser combatido; o pensamento de que eu exploro a Mãe Terra porque a Mãe Terra é grande e tem de dar-me o que eu quero deve acabar. É um pensamento completamente doentio, só pode nos levar ao colapso”.
Francisco sublinha que a ‘Laudato si’ não é uma encíclica verde, mas uma “encíclica social”.
“Não se trata de ambientalismo, que por mais nobre que seja, não é suficiente. Aqui estamos a falar do modelo de convivência e do futuro, como construí-lo: está em jogo a enorme questão da justiça social que, ainda hoje, no mundo interligado e aparentemente próspero em que vivemos, está longe de ser alcançada”, aponta.
O Papa admite preocupações com o aumento do populismo e da xenofobia, questionando ainda qual será o futuro da Europa “sem filhos e sem migrações”.
A última conversa decorreu já após o início da pandemia, perante a qual Francisco reafirma a necessidade de uma política que se oponha ao “mercado selvagem” e à “mística das finanças”.
O Papa assinala que as principais oposições ao Concílio Vaticano II (1962-1965) estão muitas vezes ligadas a “conceção do liberalismo económico”, semelhante à “do Cristianismo da Teologia da Prosperidade”, contrapondo-lhes a “Teologia da Pobreza”.