É a maior feira do livro da América Latina. Recebe em média 800 mil pessoas por ano. Foi criada há 32 anos pela Universidade de Guadalajara. É hoje um dos acontecimentos culturais mais marcantes do mundo editorial a nível global. E este ano Portugal é o convidado de honra.
A Feira Internacional do Livro de Guadalajara, que arranca este sábado naquela cidade do estado mexicano de Jalisco, é um evento para profissionais, mas onde o público é também bem-vindo. Nos nove dias de feira marcarão presença na abertura a Ministra da Cultura, Graça Fonseca, e no encerramento o primeiro-ministro, António Costa.
Comissariada por Manuela Júdice, a embaixada portuguesa de escritores, artistas e músicos que vai estar em Guadalajara inclui nomes cimeiros da cultura portuguesa. Desde logo António Lobo Antunes, Gonçalo M. Tavares, Hélia Correia, Lídia Jorge, Manuel Alegre ou o mais recente Prémio Camões, Germano Almeida e o moçambicano Mia Couto. Esta ação coordenada entre os Ministérios da Cultura e dos Negócios Estrangeiros prevê também uma série de exposições e concertos.
Em entrevista à Renascença, a comissária Manuela Júdice fala da importância desta iniciativa para dar a conhecer a cultura portuguesa no México. Também à Renascença, o embaixador do México em Portugal refere que, no seu país, "quando falamos de Portugal pensamos em futebol" e "poucas vezes falamos dos grandes escritores e poetas que este país deu e tem, ou da música extraordinária, da gastronomia, dos empresários, da indústria, da ciência e da tecnologia que tem."
Mais que livros
"No México", acrescenta Alfredo Pérez Bravo, "sabemos pouco sobre todas estas áreas em que Portugal se distingue. Esta atividade que se vai realizar em Guadalajara vai permitir dar a conhecer estes diferentes aspetos de Portugal no México”.
Mas “não é só dentro da Expo Guadalajara que Portugal vai estar presente", indica Manuela Júdice. "Vai estar por toda a cidade.” De acordo com a mentora deste projeto, há “três grandes exposições com três bons catálogos", uma delas "dedicada aos murais de Almada Negreiros que estarão em diálogo com os murais do mexicano José Clemente Orozco”.
No Museu de Arte de Guadalajara haverá também uma mostra organizada pela Fundação Calouste Gulbenkian intitulada “Ana Hatherly e o Barroco. Num Jardim Feito de Tinta”. “Haverá também uma exposição de bordados 'Da tradição à modernidade' a partir dos lenços dos namorados”, explica a comissária.
Uma feira dentro de uma feira
No programa literário estão contempladas várias iniciativas, desde entrevistas publicas a autores como Hélia Correia, a sessões de leitura de poesia com a poeta Filipa Leal, ou idas a escolas mexicanas de alguns dos escritores presentes. João Tordo, João de Melo, Dulce Maria Cardoso, Válter Hugo Mãe, José Luís Peixoto e Ricardo Araújo Pereira são outros dos nomes que marcarão presença no México. Haverá também autores de língua portuguesa oriundos de países africanos, como José Eduardo Agualusa, Mia Couto e Ondjaki.
No espaço do Pavilhão de Portugal, dentro da feira, haverá ainda uma livraria. Manuel Júdice diz que, “nesta feira, vendem-se milhares e milhares de livros ao público”, por isso a delegação portuguesa apostou em ter à venda livros de autores portugueses que já estão traduzidos para espanhol - e também os que não estão, que serão colocados à venda em português.
A comissária sublinha, contudo, que as vendas não se farão só de romances e poesia. Manuela Júdice relembra que, na última feira em que Portugal foi o país convidado, em Bogotá, na Colômbia, “o livro que mais depressa esgotou foi um livro sobre o Cavalo Lusitano”, por isso vão também apostar nesse género de livros, bem como livros sobre o azulejo português, património, guias de viagem ou livros de culinária.
Outra das apostas é a tradução. Segundo a comissária desta embaixada cultural, uma das vontades é destacar a tradução de “jovens poetas como Vasco Gato ou no romance com a Ana Margarida de Carvalho, porque são autores que merecem ser conhecidos”.
De olhos postos nos pós-feira e no imenso mercado da língua espanhola, Manuela Júdice afirma: “Ninguém fala nos direitos de autor. Sei que são pouco, deveriam ser mais, mas migalhas também é pão. Se houver um movimento consistente e continuado de venda de direitos de autor para publicação no estrangeiro, também é um contributo importante para a nossa economia. Nunca se fala da cultura como um valor económico, mas é um valor económico.”