O presidente da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT) mostra-se perplexo com o facto de o IVAucher, que permite acumular o IVA pago e, depois, descontar o valor em novas compras, deixar de fora as despesas em agências de viagens.
Em declarações à Renascença, Pedro Costa Ferreira critica a natureza, a coerência e a lógica macroeconómica da medida, e considera que os agentes de viagens foram "deitados para um saco do lixo".
"Há muito tempo que não me lembrava de ver um desrespeito tão grande pela liberdade económica e pela liberdade de escolha do consumidor. O país em que eu quero que os meus filhos cresçam, o país que eu quero ver desenvolver-se dá ao consumidor o livre arbítrio de escolher com quem quer trabalhar. E é assim que o país pode desenvolver-se e criar bem-estar económico. Não é através de medidas administrativas afastarem-se de determinados agentes do mercado em prol de outros", acusa.
O presidente da APAVT fala de "extraordinária falta de coerência" do IVAucher e do Governo, que "tropeçou nas suas próprias decisões e, de contradição em contradição, acaba por prejudicar a própria medida".
Pedro Costa Ferreira lembra que as agências de viagens distribuíram cerca de 100 milhões de euros de "vouchers" face às restrições a viagens decorrentes pandemia da Covid-19, em 2020, e que vão agora iniciar o seu rebatimento. Com esta medida, "o consumidor que tem 100 milhões de euros na mão não os pode gastar no turismo interno porque não tem direito aos descontos se for reservado em agências de viagens":
"Com esta medida, o Governo está a libertar 100 milhões de euros que estão nas mãos dos consumidores para serem consumidos no exterior."
O presidente da APAVT questiona, ainda, a lógica do IVAucher, no âmbito de uma crise em que, refere, a poupança dos portugueses e os depósitos dos particulares aumentaram e os preços dos serviços turísticos "não diminuíram": "Alguns até aumentaram de forma significativa."
"Que aluno da primeira aula de Economia é que respondia que, face a um quadro macroeconómico assim, o que era necessário era estimular a procura?", pergunta, nestas declarações à Renascença.
Pedro Costa Ferreira não esconde que os agentes de viagens estão "tristes" com a medida. Porém, continuarão a cumprir o seu papel, como o fizeram no pico da pandemia, quando "repatriaram todos os portugueses que estavam no estrangeiro", tanto aqueles que eram seus clientes, como "aqueles que foram deixados pelo Estado português ao abandono".
"Será agora na retoma também os agentes de viagens que vão colocar dentro deste país os turistas que nós sempre tivemos. Vão, não. Já começámos. Ou alguém pensa que os turistas que começaram a passear nas nossas ruas vieram por geração espontânea? Não vieram. Vieram pelo trabalho dos agentes de viagens", atira o presidente da APAVT.