O Tribunal Arbitral do Desporto suspendeu a participação da Rússia em grandes eventos desportivos durante dois anos. Motivo: o facto de, naquele país, existir uma rede institucionalizada para promover e encobrir o “doping” de desportistas russos. A sanção não surpreendeu ninguém, pois é geralmente conhecida a intensa presença do “doping” no desporto russo.
Infelizmente, a aldrabice desportiva não acontece apenas na Rússia. Ele existe em muitos países, no ciclismo, no atletismo, até no xadrez. Nas últimas décadas têm surgido nos EUA e na Europa casos de desportistas aos quais (e às quais) são retiradas medalhas ganhas em jogos olímpicos, por exemplo. O norte-americano Lance Armstrong logrou ganhar sete sucessivas voltas a França em bicicleta graças a uma dopagem sofisticada, que as autoridades do ciclismo não conseguiram, ou não quiseram, denunciar.
Os Jogos Olímpicos da era moderna reapareceram em 1896 na Grécia, porque foi na Grécia que se realizaram os jogos olímpicos da antiguidade. Só atletas amadores podiam concorrer. Em 1988, os Jogos foram abertos a atletas profissionais. Já antes desse ano alguns vencedores eram beneficiados de forma mais ou menos oculta.
O futebol nasceu no Reino Unido e durante as primeiras décadas do séc. XIX era um desporto assumidamente aristocrático, onde era inadmissível receber dinheiro. Mas, como mostra uma série da Netflix, alguns jogadores mais habilidosos, mas não aristocratas, começaram a ser pagos e a ganhar jogos. No Reino Unido, o futebol profissionalizado foi oficialmente aceite em 1888.
É uma utopia pensar que o desporto amador regressará, exceto ao nível local, familiar ou outro. O que vemos é uma entrada brutal de dinheiro, sobretudo no futebol profissional, com largo reflexo nos resultados desportivos. Clubes como o Paris Saint Germain, o Chelsea, o Manchester City e muitos outros são detidos por milionários estrangeiros.
Quer isto dizer, na prática, que o desporto depende cada vez mais do dinheiro que o financia. É pena, mas não é toda a verdade.
Na União Soviética e nos países seus satélites o capitalismo era considerado a raiz de todos os males, mas o “doping” nem por isso deixava de ser ali uma prática corrente, nomeadamente na natação e na ginástica. Por vezes com danos físicos graves para os atletas dopados, que se agravavam com a idade. Não era por dinheiro nem com dinheiro que se sacrificava a futura saúde de muitos jovens – era por ideologia comunista, que necessitava de ser prestigiada.