Este é o tempo dos partidos e o debate desta segunda-feira foi sinal disso mesmo. Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos a jogarem xadrez e a esconderem o rei. Ou a esconderem-se dele. O mesmo é dizer que ambos ignoraram o Presidente da República, o principal pivot no pós-eleições de março.
É certo que Marcelo Rebelo de Sousa, ele próprio, tem escondido o seu jogo. O que fará o Presidente da República se levar à letra que o líder do PS só viabiliza um Governo minoritário da AD, mas não diz o que fará à primeira proposta de Orçamento do Estado que for apresentada?
A Luís Montenegro foi lançada a mesma pergunta e o líder do PSD manteve a estratégia de não abrir o jogo sobre o que fará se o PS ganhar sem maioria e se a restante esquerda não for suficiente.
Sem estas garantias qual é o valor da "estabilidade" política que os partidos têm para apresentar a Marcelo Rebelo de Sousa quando for a hora do Presidente da República?
Nesse caso, a única garantia que os partidos da alternância terão para apresentar será a de micro-ciclos políticos que deitam por terra cada um dos programas eleitorais, quanto mais um programa de Governo.
Entretanto, que crédito dar, por exemplo, à garantia de Pedro Nuno Santos de que viabiliza um governo minoritário da AD, quando há umas semanas garantia que "será difícil ao PS viabilizar um governo de direita"? É no mínimo incoerente.
E, entretanto, que crédito dar ao "não é não" de Luís Montenegro sobre o Chega se o líder do PSD e da AD mantém o tabu sobre o que fará no pós-10 de março? É um convite a entrar no universo literário da "suspensão de descrença", ou seja, aposta-se que o eleitor aceite a premissa, sabendo ainda assim que é impossível ou contraditória com a realidade. E isso pode custar votos.
Sim, para quem gosta de um bom debate político, o desta segunda-feira foi maravilhoso. Mas só ficámos a saber metade da verdade. O futuro é já ali e passa por Marcelo.