Lisboa e Albufeira são os municípios em que o arrendamento representa uma maior taxa de esforço para as famílias, levando-lhes 68% do rendimento mensal médio. A conclusão é de um estudo da imobiliária Century 21, que teve como ponto de partida uma habitação de 90m² como “ideal para a média dos agregados familiares portugueses”.
O Eurostat determina que há sobrecarga quando os custos são superiores a 40% do rendimento disponível; por sua vez, o Banco de Portugal define 33% como valor referência limite.
Usando este segundo critério, mais apertado, uma família média fica dentro do critério de saúde financeira em apenas 10 dos 41 municípios analisados. Foram estudadas todos as capitais de distrito, com uma análise mais aprofundada nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto e no Algarve.
A seguir a Lisboa e Albufeira, os concelhos do país com a maior taxa de esforço para acesso ao arrendamento são Loulé (63%), Cascais (62%) e Amadora (57%). Com valores de pelo menos 50% encontram-se ainda Portimão (56%), Odivelas (55%), Loures (54%), Porto e Oeiras (50%). Fora de Lisboa, Porto e do Algarve, os resultados são muito distintos, com valores tão baixos como 24% na Guarda ou 26% em Viseu.
A assimetria regional é enorme e permite até obter números ilusórios. Em 10 das 18 capitais de distrito a taxa de esforço para arrendamento fica abaixo dos 33%, mas trata-se dos concelhos menos populosos do país. Só nas duas áreas metropolitanas registam-se cerca de 47,5% dos agregados familiares de Portugal continental.
Comprar compensa em todo o país
O estudo olha também para a alternativa ao arrendamento: a compra de casa. As conclusões são tão claras quanto pouco surpreendentes. Em todos os municípios – à exceção de Lagos, no turístico Algarve, em que há um empate técnico – fica muito mais barato comprar casa do que arrendar.
O custo mensal das prestações a pagar ao banco foi calculado com base em simulações online em quatro bancos, em que é emprestado 85% do valor do imóvel, a pagar em 30 anos.
As diferenças de custo mensal entre a compra e o arrendamento variam entre os 61% de Bragança e os 5% de Tavira. No Porto (30%) e em Lisboa (14%) o “desconto” obtido com a aquisição de habitação é inferior à da maior parte dos municípios estudados, mas em várias cidades da periferia, como Barreiro (58%), Sintra (50%) e Vila Nova de Gaia (49%) as diferenças são bem mais notórias.
Apesar do menor peso no orçamento familiar, as taxas de esforço para aquisição de habitação são ainda bastante pesadas em algumas cidades, com destaque para Lisboa (onde este indicador atinge os 58%), seguindo-se Lagos, Loulé e Tavira (52%), Albufeira (48%), Cascais (44%), Portimão (36%), Porto (35%), Odivelas e Oeiras (34%).
Em termos absolutos, são mais uma vez gritantes as diferenças regionais. Se é verdade que, em 13 das 18 capitais de distrito, adquirir uma casa de 90 m² fica abaixo de 90 mil euros (53.855 na Guarda, por exemplo), o Porto (164.714 euros) e especialmente Lisboa (305.429 euros) ficam no outro extremo. Em Évora, Coimbra e Faro a aquisição dessa casa oscila entre os 100 e os 130 mil euros.
Os concelhos onde a aquisição de habitação requer menor taxa de esforço das famílias são Guarda, Castelo Branco, Bragança, Santarém e Portalegre, que no total contam apenas com 2,1% dos agregados familiares do continente.
De um cubículo a uma vivenda
Partindo de todos estes dados, o estudo fez algumas extrapolações, como calcular quantos metros quadrados uma família de rendimento médio poderia comprar ou alugar no seu concelho, sem sobrecarregar o orçamento familiar.
Sem surpresa, Lisboa e Porto estão na cauda desta tabela. Na capital, seria possível arrendar 40m² e comprar mais 10. No Porto, o arrendamento chegaria para 55m² e comprar uns já razoáveis 80m².
De acordo com Ricardo Sousa, presidente executivo da Century 21 Portugal, é de esperar que as taxas de esforço na área metropolitana de Lisboa e concelhos limítrofes "continuem a subir nos próximos meses”.
No entanto, também se deverá registar alguma dispersão territorial: “O turismo e a procura internacional estão a evoluir para além das zonas em que mais se destacam - Lisboa e Algarve -, para o Porto e outras áreas de costa e várias regiões turísticas, de norte a sul do país. Esta é uma tendência positiva porque vem retirar pressão das zonas mais consolidadas”, assinala.