A greve das transportadoras em Espanha, que arrancou a 14 de março, está a ter impactos cada vez mais visíveis. Além das longas filas de trânsito em Madrid, há múltiplos relatos de escassez de bens nas prateleiras dos supermercados. Nem mesmo o recente anúncio do governo de Pedro Sánchez de um desconto de 20 cêntimos por litro até ao final de julho fez desmobilizar (pelo menos, para já) a Plataforma da Defesa dos Transportes – a entidade que convocou a mobilização.
À Renascença, Miguel Seco, presidente da Câmara do Comércio e Indústria Luso Espanhola, conta que no norte da Galiza “começa a haver problemas sérios de abastecimento”. “Os portos de pesca da Galiza estão sem forma de fazer a descarga do peixe e transportá-lo. Isso está a afetar a distribuição de produtos frescos. A linha da Galiza para Madrid está praticamente cortada”, relata.
O representante da Câmara do Comércio lembra ainda que “muitos comboios de transporte já tiveram que ser escoltados pela polícia. Há relatos de produtos perecíveis que ficaram estragados por não poderem ser transportados”.
Na origem da greve das transportadoras em Espanha está o aumento de preços dos combustíveis, que se agravou, de forma significativa, com o início da guerra na Ucrânia. “Indiretamente, tudo está relacionado [com a guerra]. Ninguém pode dizer que a subida do preço do combustível em Portugal não tem nada a ver com a guerra na Ucrânia. Há um custo brutal, quer pelo corte de fornecimentos, quer pelas expectativas de inflação”, diz Miguel Seco.
A complicar a situação em Espanha, há, nas palavras do representante da Câmara do Comércio, um problema de interlocução: o Governo de Sánchez não quis até hoje reunir-se com representantes da Plataforma da Defesa dos Transportes, optando por negociar apenas com o Comité Nacional dos Transportes Rodoviários (CNTC), órgão representante da maioria dos sindicatos das transportadoras.
Na semana passada, uma porta-voz do Governo espanhol disse que a greve era “um boicote incentivado pelo ódio e posições de extrema-direita”. Esta sexta-feira à tarde, contudo, o executivo de Pedro Sánchez abriu portas a conversações e está reunido, desde as 17 horas (16h em Portugal), com representantes da plataforma. (De momento, ainda não se sabe se há alguma base de entendimento ou acordo.)
Questionado se uma situação semelhante à que se vive em Espanha possa ocorrer em Portugal, Miguel Seco rejeitou esse cenário. Por um lado, apontou, o Governo português é muito mais “célere a agir” e tomou medidas para antecipar os impactos do conflito nos combustíveis mais cedo que Espanha. Por outro, a dinâmica política em Portugal é “mais estável” que a espanhola.