D. José Ornelas: “Seria altamente perigoso ter um Estado que ignorasse ou hostilizasse” as confissões religiosas
09-03-2021 - 15:52
 • Renascença

Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa rejeita a manipulação do sentido de pátria e religião por pessoas e grupos extremistas. D. José Ornelas falava na cerimónia ecuménica com representantes das confissões religiosas em Portugal, na presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que iniciou hoje o seu segundo mandato.

“Seria altamente perigoso ter um Estado que ignorasse ou hostilizasse” as confissões religiosas, disse esta terça-feira o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP).

D. José Ornelas falava no Porto, durante uma cerimónia ecuménica com representantes das confissões religiosas em Portugal, na presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que iniciou hoje o seu segundo mandato.

“Creio na vantagem de termos um estado não confessional, que seja aberto à diversidade de formas religiosas presentes no país e que não tira nada à importância da fé de cada um, mas acho que seria altamente perigoso ter um Estado que ignorasse ou, pior ainda, que hostilizasse a manifestação dessa dimensão fundamental do ser humano e da sua justa expressão na sociedade”, disse o presidente da CEP.

Para D. José Ornelas, "isso significaria negar os direitos humanos básicos, mas, mais ainda, perder a memória da história que moldou as nossas culturas, o pensamento, a arte, o bem-fazer, bem como reduzir e privar o futuro de uma dimensão espiritual capaz de integrar valores universais, humanizadores e inspiradores de bem-pensar, operar e projetar".

O também bispo de Setúbal começou a sua intervenção com palavras de agradecimento a Marcelo Rebelo de Sousa por, no dia em que toma posse do segundo mandato, reunir-se na cidade do Porto com as autoridades da cidade e representantes das diversas confissões religiosas.


D. José rejeita manipulação de sentimentos religiosos e patrióticos

"Felicito e agradeço este gesto que interpreto como fruto de uma leitura atenta da Constituição e do ordenamento legal do nosso país, mas igualmente como uma visão humanista e aberta da sociedade do mundo, onde encontram a expressão e dão o seu contributo as diferentes culturas, correntes de pensamento e de espiritualidade que têm inspirado a vida e os valores do nosso país e do planeta e que devem a continuar a integrar a construção do seu futuro", frisou.

D. José Ornelas também alertou para a necessidade de, em relação à ciência e aos avanços tecnológicos, "encontrar convergência de valores e objetivos num equivalente desenvolvimento da ética, do direito, da justiça, da solidariedade, da cultura e da espiritualidade".

"É desse modo que se poderá evitar a instrumentalização egoísta dos poderosos meios de que dispomos, sem respeito pela Humanidade no seu todo e pelo planeta que habitamos", salientou.

A visão espiritual do Homem na sua dignidade, origem e destino, disse o presidente da CEP, "tem de estar bem presente na construção da sociedade para que se evitem erros do passado e que os meios formidáveis de que dispomos sejam utilizados para combater fragilidades e proporcionar uma vida digna a todos os habitantes da Terra, casa comum da Humanidade".

Neste encontro com as várias confissões religiosas representadas em Portugal, D. José Ornelas rejeitou a manipulação do sentido de pátria e religião por pessoas e grupos extremistas.

"Penso que é importante que estejamos unidos para afirmar que a violência não é compatível com a expressão da fé, mas a sua negação com a expressão da pátria e do seu progresso na evolução da Humanidade", declarou.

"A nossa presença aqui quer significar o nosso compromisso na construção da solidariedade e da paz a partir da fé que cada um de nós professa. A inspiração da fé não tira a pessoa o compromisso na construção da cidade, da sua história. Pelo contrário, tem sido ao longo da história motivo de compromisso, de cultura, de esperança e sobretudo de atenção aos mais frágeis, precisamente, porque Aquele que deu origem a este mundo é sempre visto como o Senhor da compaixão e da paz”, afirmou o presidente da Conferência Episcopal.