Quem é Paulo Raimundo, o padeiro que é o novo líder comunista
05-11-2022 - 22:36
 • Tomás Anjinho Chagas , Susana Madureira Martins

Contra todas as previsões, o Comité Central escolheu um novo secretário-geral desconhecido do público em geral. Quem é o homem que vai ocupar a cadeira que foi de Jerónimo de Sousa durante 18 anos?

Não são muitos os detalhes que se conhecem da vida do novo secretário-geral do PCP. Uma figura desconhecida para o público em geral, cuja escolha surpreendeu a maioria e traiu as previsões. A escassa informação que é conhecida neste momento, na sua maioria, é dada através de uma nota biográfica que o próprio partido decidiu enviar às redações,

Paulo Raimundo tem 46 anos, é casado e tem três filhos.É nascido em Cascais, os pais trabalharam (e viveram) no clube Estoril Praia. Os pais são alentejanos, mas quando chegou aos três anos, fixou-se em Setúbal- terra que o viu crescer.

Numa infância que ficou marcada pela "vivência de rua e junto ao Rio Sado", Paulo Raimundo esteve sempre perto da mãe. Enquanto filho, chegou a acompanhá-la na apanha do marisco.

O primeiro contacto com a política é feito quando entra para o ensino secundário, altura em que integra a Associação de Estudantes. É por essa altura que entra para a o partido. Aos 15 anos adere à Juventude Comunista Portuguesa, passado quatro anos entra para o quadro de funcionários da JCP. Ao mesmo tempo vai estudando e trabalhando.

Segundo o comunicado do PCP, Paulo Raimundo "trabalhou em carpintaria, foi padeiro e animador cultural na Associação Cristã da Mocidade (ACM) na Bela Vista".

Torna-se membro do PCP aos 18 anos, e dez anos depois fixa-se como funcionário do partido, em 2004, ano em que Jerónimo de Sousa se torna secretário-geral dos comunistas.

O lugar de destaque chega quando Paulo Raimundo tem apenas 20 anos, quando no XV Congresso do PCP é eleito membro do Comité Central, órgão mais importante do partido. No Congresso seguinte reforçou a sua importância ao ser eleito para a Comissão Política do Comité Central, em 2000.

Durante a pandemia, em 2020, o novo secretário-geral do PCP foi eleito para a Comissão Política e para o Secretariado do Comité Central. Entrou assim para as duas cúpulas de poder no partido. Só há cinco pessoas nestas circunstâncias: Jerónimo de Sousa, Francisco Lopes, Jorge Cordeiro, José Capucho, e ele, Paulo Raimundo.

Não é, portanto, um novo quadro. Integra os órgãos de direção desde os tempos em que Carlos Carvalhas liderava o PCP.

No comunicado enviado pelo PCP, o partido destaca as "qualidades humanas próprias a uma experiência densa e diversificada", bem como o "trabalho político em múltiplas áreas de organização e intervenção com responsabilidades pelo trabalho da juventude e da JCP".

Os comunistas consideram que Paulo Raimundo tem "um percurso de vida dedicado à defesa dos interesses dos trabalhadores e do povo português".

O que disse no último Congresso?

Numa das linhas mais duras do PCP, Paulo Raimundo fez um discurso virado para a luta de classes no último Congresso do PCP, em Loures, em plena pandemia.

"O Capitalismo com a sua natureza exploradora, opressora, agressiva e predadora enfrentando a sua crise estrutural, procura apropriar-se dos progressos da ciência e da técnica, aumentar a exploração, concentrar a riqueza e, tudo faz para a pretexto da epidemia atacar direitos ao mesmo tempo que dinamiza uma brutal ofensiva ideológica", disparava então Paulo Raimundo.

As palavras confirmam a ala marcadamente ideológica a que o novo líder do PCP pertence: "Os novos e velhos problemas que os trabalhadores enfrentam não resultam influência dos comunistas no Movimento Sindical Unitário, são, isso sim, fruto da exploração capitalista e das opções da política de direita dos sucessivos governos do PS, PSD e CDS", dizia em 2020, numa altura de tensão social em que os movimentos inorgânicos começaram a roubar espaço aos sindicatos tradicionais.

Paulo Raimundo tem um discurso classista e muito focado na ação sindical, e nesse congresso em Loures, afirmava que "ao contrário do que pretende o inimigo, os trabalhadores contam com os comunistas para o reforço da sindicalização e da organização sindical, para o desenvolvimento da luta reivindicativa".

O novo líder comunista, o primeiro nascido depois da Revolução de 1974, desafiava várias vezes e fazia questão de colocar uma barreira entre "o eles, e o nós".

"Queriam e querem que ficássemos parados, enquanto nos roubam os salários e os direitos", constatava em Loures.

Na altura, prometia um combate constante e consistente: "Estamos e estaremos na luta, que é de resistência, avanços e recuos, uma luta para a qual o movimento sindical unitário terá nos comunistas que nele participam, aqueles que estarão sempre na primeira linha do combate."