Luísa Pinto, diretora de obstetrícia do Hospital de Santa Maria, e André Graça, diretor de neonatologia, garantem que não houve falhas na morte da grávida durante o transporte para o Hospital São Francisco Xavier.
"A grávida tinha chegado do estrangeiro há alguns dias, não sabemos qual o seu historial clínico e não falava português, nem inglês. Dada a estabilidade clínica, era preferível um bebé nascer no sítio onde iria ser assistido. É um acontecimento inesperado e trágico", começou por dizer Luísa Pinto em conferência de imprensa, esta terça-feira.
Aos jornalistas, a diretora garantiu que a prática é "comum, acontece em todos os países do mundo e é o que está preconizado".
"Muitas vezes somos nós a receber de outros hospitais", explica.
André Graça garante que as vagas na rede são suficientes: "As vagas na rede são suficientes, não podemos pensar no hospital isoladamente, mas em termos de capacidade de resposta regional".
"Temos picos de internamentos que nos impedem de dar resposta a todas as situações. Não se trata de não haver vagas no maior hospital do país. Em horas de pico, não há vagas, que são sempre finitas. Não podemos ir aos 110%, não podemos colocar um recém-nascido numa maca, para colocar isto em termos visuais. É sempre preferencial transportar um bebé ainda no útero para um local onde há vagas para ter cuidados", diz.
A mulher de nacionalidade indiana estava a passar férias em Portugal, com cerca de 30 semanas de gravidez. Recorreu pela primeira vez ao serviço de urgência do Hospital de Santa Maria na terça-feira passada, 23 de agosto, por volta das 2 horas da manhã.
"Após normalização das tensões arteriais e franca melhoria respiratória, foi transferida cerca das 13 horas do mesmo dia para o Hospital São Francisco Xavier, por ausência circunstancial de vagas de Neonatologia no CHULN, acompanhada por um médico e enfermeiros", diz o Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN), numa nota, esta segunda-feira.
A grávida entrou em paragem cardiorrespiratória durante o transporte, tendo sido realizada a reanimação ainda na viagem, indica o mesmo comunicado.
No Hospital São Francisco Xavier "foi submetida a uma cesariana urgente, tendo o recém-nascido 772 gramas, que foi para a unidade de cuidados intensivos neonatais por prematuridade", indica o Santa Maria.
O bebé continua internado na neonatologia do Hospital São Francisco Xavier. A mãe, que ficou internada nos cuidados intensivos, viria a morrer.
Na sequência da morte da grávida e de várias semanas de caos nas urgências, a ministra da Saúde apresentou a sua demissão ao primeiro-ministro por entender que "deixou de ter condições" para se manter no cargo.
A decisão de Marta Temido foi conhecida através de um comunicado do Ministério da Saúde, divulgado na madrugada desta terça-feira.