A Santa Sé deixou de ter representação diplomática na Nicarágua com a saída, no final da semana passada, do encarregado de negócios. A medida surge na sequência do pedido das autoridades de Manágua que há um ano já tinham expulsado o núncio apostólico.
Com a saída do último representando do Vaticano da Nicarágua, o edifício da Nunciatura Apostólica e os seus bens e arquivos foram confiados à representação italiana, de acordo com a Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas.
O encerramento da embaixada é o culminar do afastamento nas relações entre os dois Estados, depois de há um ano, a 12 de março de 2022, o núncio apostólico, D. Waldemar Stanisaw Sommertag, ter sido expulso do país. Foi pedido pelo Governo na sequência de declarações do Papa Francisco a um ‘site’ argentino.
Nessa entrevista, o Santo Padre falava do “desequilíbrio da pessoa que lidera” a Nicarágua, descrevendo o país como sendo uma “ditadura grosseira”.
Nos últimos tempos, o Governo da Nicarágua tem imposto várias medidas repressivas contra a Igreja.
Uma das mais recentes foi o encerramento forçado de duas universidades católicas, a de São João Paulo II e a Autónoma Cristã da Nicarágua e também da Fundação Mariana de combate ao Cancro e de dois escritórios da Cáritas.
As autoridades também já tinham decretado a proibição de celebração de qualquer procissão nas ruas durante a Quaresma e Semana Santa. Uma proibição que foi conhecida duas semanas depois de D. Rolando Álvarez ter sido condenado.
O clima de perseguição tem afetado também as congregações religiosas. Um dos casos mais recentes é o das Trapistas e de um grupo de irmãs de Porto Rico, que decidiram também deixar o país devido à pressão das autoridades.
Anteriormente, as autoridades já tinham incitado a saída das Missionárias da Caridade, a congregação fundada pela Santa Madre Teresa de Calcutá, assim como de outros religiosos e sacerdotes, e obrigado ao encerramento do canal de televisão da Conferência Episcopal e de outras seis estações de rádio católicas.
Além da Igreja, também a ONU tem denunciado os constantes atropelos aos direitos humanos na Nicarágua. Num relatório, apresentado recentemente em Genebra, a secretária-geral adjunta da ONU, Ilze Brands Kehris, referia-se à degradação “dos direitos humanos na Nicarágua” desde dezembro de 2022, fazendo uma referência explícita à situação do bispo de Matagalpa e administrador apostólico da Diocese de Estelí, D. Rolando Álvarez, condenado a 26 anos e quatro meses de prisão.