O tabuleiro do xadrez político joga-se com pinças nos Açores e torna-se especialmente sensível por ser jogado em antecâmara das legislativas. O PSD venceu as eleições sem maioria e pressiona o PS a viabilizar a “maioria relativa” para não votar ao lado do Chega. Mas os socialistas não estão para aí virados.
“Não haja ilusões, o PS não viabiliza um Governo de direita”, disse Pedro Nuno Santos, secretário-geral do PS, na primeira reação à derrota na Região Autónoma. E provavelmente o caminho do PS/Açores vai ser esse. O secretariado regional vai reunir-se esta quinta-feira para decidir o que fazer nas próximas semanas”.
“Nos Açores estamos habituados a pensar pela nossa cabeça e o Pedro Nuno Santos sabe disso”, frisa um dirigente do PS Açores à Renascença. Mas a posição do PS Açores e o Largo do Rato parecem ser convergentes: “ninguém se sentiu condicionado”, garante.
A ideia é mesmo passar a batata quente para o PSD e responder na mesma moeda. Para os socialistas, o PSD “tem a responsabilidade de formar Governo” e o PS pode lavar as mãos em relação ao futuro político nos Açores reduzindo-se ao papel de oposição.
Noutras palavras, os socialistas não vão acatar a estratégia do PSD, que tem colado o PS ao Chega caso inviabilizem a formação do governo açoriano encabeçado pela coligação PSD/CDS/PPM. “O povo entendeu que deveríamos ser oposição”, vinca este dirigente do PS.
“Eles que descalcem a bota”, resume a mesma fonte à Renascença, acrescentando que foi o PSD e o Representante da República que deram tanta importância à estabilidade e a tornaram numa “condição sine qua non”.
Numa aritmética tão meticulosa, o PSD precisa pelo menos da abstenção do PS para viabilizar o futuro governo de José Manuel Bolieiro, ou então terá de virar-se para o Chega – já que os deputados do PSD somados aos da IL e PAN ficariam a um voto da maioria.
PSD espera para ver e não abre jogo
Na sede dos social-democratas esperam para ver. A bola está agora nas mãos do PS e a espectativa é perceber como é que os socialistas reagem a uma estratégia que até pode vir a ser replicada no continente.
Contactada pela Renascença, uma fonte do PSD Açores reitera que a ideia é perceber qual é o rumo definido esta quinta-feira pelo PS/Açores e não revela qual é o próximo passo.
No limite, se o PSD não quiser entender-se com Chega e não contar com a viabilização do PS, pode haver novas eleições. Um cenário de ingovernabilidade não está totalmente excluído, mas o PSD não revela – para já – que caminho vai tomar nas próximas semanas.