É uma espécie de provedor do Rock in Rio Lisboa. O fundador do projeto há 40 anos no Brasil e há 20 em Lisboa anda pelo recinto de forma anónima, de boné posto a tomar notas sobre o que alterar na próxima edição.
Depois de anunciado este domingo pela organização em conjunto com a câmara de Lisboa que o festival mudou-se definitivamente para o Parque Tejo, Roberto Medina diz, em entrevista à Renascença, que há melhoramentos a fazer no terreno.
Para 2026, ano em que desejava trazer Pink a Lisboa, o pai do Rock in Rio diz que quer mais sombras no recinto e mais relva sintética junto aos palcos. Numa altura em que mundo está marcado por guerras e conflitos, Medina lembra a importância da música como uma linguagem que une e diz que o festival é hoje mais do que um evento, é também “um programa turístico”
Que balanço faz dos 20 anos do Rock in Rio em Lisboa?
Estou muito feliz. Acho que a vida foi generosa comigo. Chegar até aqui não foi talento, foi trabalho. Acho que a vida corresponde quando se corre atrás da tua lenda pessoal. Eu corri! Então isso é um pouco resultado daquele sonho, não só há 20 aqui, mas há 40 no Brasil.
Achei que podia fazer isso e estou entregando isso. Eu fiquei surpreso com o evento deste ano aqui em Portugal, porque já era o maior evento de Portugal, agora é o maior evento da Europa, longe de qualquer outro!
Dentro desse boom turístico que está sendo Portugal e está sendo, porque é um produto excecional, acho que vamos agregar agora essa imagem linda do rio, a ponte, é uma poesia! Ontem com a Lua! Isto deixa de ser só um evento de música, para ser um programa turístico para todo mundo.
Houve 106 países onde foram comprados bilhetes para o Rock In Rio este ano. Quer dizer que tem de apostar ainda mais na internacionalização do evento?
Claro! Ontem saiu uma matéria num jornal londrino brincando com o festival Glastonbury. Ele que se cuide, porque o Rock In Rio Lisboa é o maior! Então eu acho também que é o maior em todos os sentidos.
Uma coisa que eu fico feliz em voltar Portugal, 20 anos depois de tanto trabalho é que Portugal para mim já era essa joia turística quando eu cheguei aqui e os portugueses diziam “não, não, mas não é tanto assim”, eu digo, claro que é!
A luz é linda, a gastronomia perfeita, o tempo…então a gente, nós portugueses, que eu sou também um pouco, a gente não percebia a joia que é. Hoje, são 22 milhoes de turistas aqui em Portugal e o turismo é uma receita fundamental para a cidade e esse produto Portugal vai cada vez se consolidar mais.
Se você voltar 40 anos atrás, era completamente improvável que eu fizesse alguma coisa, como fiz. Um milhão e meio de pessoas num evento no Brasil, era absolutamente improvável e a gente conseguiu e a gente está aqui. Eu estou muito feliz!
Vir para este recinto do Parque Tejo teve um risco associado. Houve erros no primeiro fim-de-semana. Foram corrigidos para o segundo fim-de-semana. Que melhorias serão necessárias para os próximos 2 anos? O Roberto Medina é uma espécie de Provedor que anda muitas vezes anonimamente entre o público a ver e a apontar esses erros. O que é que já anotou?
A chegada e saída das pessoas vai ser melhorada. Primeiro, porque as pessoas aprendem como chegar e como sair; depois, porque o poder público tem que se articular melhor, porque ele não conhecendo a situação, não consegue enxergar soluções para aquilo
Também há muita coisa que vai ser melhorada nos espaços.
Por exemplo?
Se você olhar para o espaço como um todo, eu quero ter mais cuidado com as lojas e com os acabamentos. São detalhes. Eu quero ver se consigo no próximo festival criar zonas de sombra. Quero fazer guarda sois gigantescos coloridos. O calor é forte e o clima está mudando muito.
No futuro também quero fazer algumas áreas de grama sintética onde estão os palcos principais. Eu acho que precisa de um pouco de paisagismo. Já conversei com o Presidente da Câmara sobre isso, de fazer algumas ilhas de paisagem. Enfim, estamos no começo. Acho que foi uma vitória de Lisboa poder mostrar para o mundo essa paisagem linda
300 mil pessoas em 4 dias, mais uns milhões através da televisão e da rádio e também através da Renascença. Essa amplificação do Rock In Rio é uma aposta para continuar?
Olha, eu vou dizer uma coisa para você. Para mim, a motivação desde que a gente está vivendo isso é enorme. Quer dizer, eu tive uma grande motivação no primeiro e no segundo. Depois é um evento controlado, que é aquilo que se imaginou aqui.
No Brasil tem um termo que é “aumentar o sarrafo”, chegar mais alto, pular o obstáculo mais alto. Aí, aqui eu já estou aumentando com a Roberta. A gente está discutindo isso. Eu acho que ele vai ter mais patrocínio, vai ter mais gente, vai ser mais importante.
A gente arriscou! É arriscado sair da zona de conforto, que é a Bela vista. Morri de saudade da Bela Vista, porque eu amava aquele lugar! Amo aquele lugar! Mas foi para melhor. Só a fotografia desse palco com o rio já resolve tudo que a gente teve que suar a camisa para colocar aqui.
Já trouxe Rolling Stones. A Roberta Medina dizia que queria trazer a Pink. Quem é que Roberto Medina quer trazer para 2026?
A Pink é uma aposta minha! O Show dela é espetacular. Então eu estou perseguindo, eu fico em cima, como fiquei do Bruno Mars e consegui para São Paulo! Fiquei um ano na cola dele! O mercado está se transformando muito, principalmente junto do público mais jovem.
As informações estão correndo muito rápido, tem sempre alguma coisa nova para você ir buscar. Acho que o importante, para mim, pelo menos não fiz essa história só com bandas, fiz essa história como uma experiência humana, o que está aqui fora, com todo o respeito que eu tenho, a importância das bandas é muito menor.
As próprias bandas concordam comigo nisso. Tenho que fazer uma curadoria cada vez melhor das bandas, mais articulada com o momento que você está, mas também tenho que aperfeiçoar a festa, a comida, a bebida, a campanha.
Quando se faz uma campanha de propaganda de um evento desse, o cara já começa a sonhar com você! É uma oportunidade para as marcas investirem nesse momento. As empresas estão investir no entretenimento. Com a quantidade de informações e o caleidoscópio de ferramentas que você tem hoje, está difícil a pessoa reter. Então, aqui não, porque você cria uma marca de amor.
Se tal como diz o hino do Rock in Rio “Se a vida começasse agora”, pergunto se começava tudo de novo?
Eu acho que a vida precisa começar outra vez, porque o mundo está estranho, está confuso. Está dividido e eu tenho a sorte de trabalhar numa coisa que une o diferente. A música une diferente, é uma linguagem universal, então o mundo tem que começar outra vez. A gente fica com o playback dessa história toda (risos)!