O Papa deslocou-se este domingo até Hiroxima, no Japão, para clamar contra as armas nucleares e escutar os testemunhos de dois sobreviventes da bomba atómica que foi lançada sobre aquela cidade em 1945.
Antes de fazer o seu discurso, Francisco ouviu o testemunho de Koji Hosokawa de como foi viver o ataque com uma bomba atómica, há 74 anos, quando tinha 17.
“Penso que todos devem compreender que as bombas atómicas não foram apenas lançadas sobre Hiroxima e Nagasáqui, mas sobre toda a humanidade”, afirmou o sobrevivente.
“A guerra deixa as pessoas loucas, e a maior loucura é a bomba atómica, que nega a existência humana”, concluiu, numa mensagem que foi lida pela apresentadora da cerimónia, uma vez que o próprio não pôde estar presente.
Francisco escutou ainda Yoshiko Kajimoto, que na altura tinha 14 anos e recordou um cenário de perfeito horror quando se conseguiu libertar dos escombros em que ficou soterrada. “Estava escuro como a noite, e cheirava a peixe podre”.
“Pelo caminho havia pessoas a caminha lado a lado, como fantasmas, pessoas cujo corpo estava de tal forma queimado que não conseguia distinguir os homens das mulheres, estavam co o cabelo em pé, as caras inchadas para o dobro do tamanho, os lábios pendurados, soltos, com as mãos estendidas e com a pele queimada pendurada. Ninguém neste mundo pode imaginar tal cenário infernal”, recordou.
Perante estes testemunhos o Papa foi claro. “Desejo reiterar, com convicção, que o uso da energia atómica para fins de guerra é, hoje mais do que nunca, um crime não só contra o homem e a sua dignidade, mas também contra toda a possibilidade de futuro na nossa casa comum. O uso da energia atómica para fins de guerra é imoral. Seremos julgados por isso.”
“As novas gerações erguer-se-ão como juízes da nossa derrota por havermos falado de paz, mas não a termos realizado com as nossas ações entre os povos da terra. Como podemos falar de paz, enquanto construímos novas e tremendas armas de guerra? Como podemos falar de paz, enquanto justificamos certas ações ilegítimas com discursos de discriminação e ódio?”, disse ainda o Papa.
Negando a ideia da existência de armas nucleares sequer enquanto dissuasoras, Francisco perguntou: “Como podemos propor a paz, se usamos continuamente a intimidação bélica nuclear como recurso legítimo para a resolução de conflitos? Que este abismo de sofrimento evoque os limites que jamais se deveriam ultrapassar. A verdadeira paz só pode ser uma paz desarmada!”
E terminou com um forte apelo. “Numa única súplica, aberta a Deus e a todos os homens e mulheres de boa vontade, em nome de todas as vítimas dos bombardeamentos, das experimentações atómicas e de todos os conflitos, elevemos juntos um grito: Nunca mais a guerra, nunca mais o fragor das armas, nunca mais tanto sofrimento! Sobrevenha a paz em nossos dias, neste nosso mundo”.
Este domingo foi dedicado pelo Papa a visitar as duas cidades que foram atingidas por bombas nucleares no final da Segunda Guerra Mundial, matando centenas de milhares de pessoas no imediato e deixando outras tantas com sequelas para o resto da vida.
O Papa disse que não podia ter vindo ao Japão sem ir a estes lugares que são marcas perenes do poder destrutivo da guerra. “Senti o dever de vir a este lugar como peregrino de paz, para me deter em oração, recordando as vítimas inocentes de tanta violência e trazendo no coração também as súplicas e anseios dos homens e mulheres do nosso tempo, especialmente dos jovens, que desejam a paz, trabalham pela paz, sacrificam-se pela paz.”
Depois desta visita a Hiroxima o Papa regressa a Tóquio, onde na segunda-feira tem novamente um dia preenchido. O regresso a Roma está marcado para terça-feira.