O melão aberto ou por abrir? As opiniões distribuem-se nesta metáfora que serve para o plano “Mais Habitação” do Governo, e que tem sido terreno de batalha política, com críticas da esquerda à direita, passando pela sociedade civil e pelo Palácio de Belém.
A semana começou com as violentas críticas de Marcelo Rebelo de Sousa ao pacote de habitação do Governo, que classificou como uma “lei-cartaz” que será “inoperacional”, em declarações ao Correio da Manhã.
A resposta por parte do PS surgiu pela voz do seu presidente, Carlos César, que em declarações à Renascença criticou o tom e a falta de equilíbrio nas palavras do Presidente da República.
Esta quarta-feira, o debate na Assembleia da República contou com o primeiro-ministro, que nas entrelinhas aproveitou para responder a Marcelo Rebelo de Sousa.
“A razão pela qual eu prefiro funções executivas a outro tipo de funções políticas, é que noutras funções fala-se, fala-se, fala-se. Mas no executivo ou se faz ou não se faz, e a medida do que se faz está nos resultados”, desferiu o primeiro-ministro ao fim de mais de duas horas de debate, que não raras vezes incidiu sobre o tema da habitação.
Já antes, o chefe de Governo tinha alertado para o timing em que tudo se desenrolou: “Uma coisa muito importante na política e nas relações entre os órgãos de soberania é cada um atuar no momento próprio. Neste momento o nosso momento é saber ouvir para depois para a semana decidir”.
Só que momentos depois, pediu tempo: “Não digam já que o melão é mau quando ainda não conhecem o melão”, atirou o primeiro-ministro, socorrendo-se da expressão de Marcelo Rebelo de Sousa, que num primeiro momento disse que o pacote era um “melão”, que só abrindo é que se percebe se é bom.
O plano “Mais Habitação” continua em consulta pública e só na próxima semana deve estar fechado. Até lá, só duas medidas foram aprovadas e já promulgadas pelo Presidente da República.
Em resposta às várias críticas da oposição em relação a este tema, que por várias vezes amplificou as palavras do presidente da República, Costa prometeu “continuar a cumprir o programa de Governo”, independentemente da “vozearia de algumas bancadas” ou de quem queira desafiar o PS “para tricas institucionais, que manifestamente, não é a dança que queremos dançar”.
PS pede “estabilidade” a Marcelo em época de “mares turbulentos”
Se é certo que com maioria absoluta, António Costa, como já se queixou anteriormente, “leva pancada de todo o lado”, não é menos certo que o seu partido é o seu protetor no hemiciclo.
Tal como o primeiro-ministro, o Partido Socialista deixou críticas implícitas à agressividade com que Marcelo Rebelo de Sousa atacou o plano de habitação do Governo. Pela voz do líder parlamentar, Eurico Brilhante Dias, os socialistas pediram estabilidade a Belém.
“Os portugueses sabem que nós só podemos ultrapassar as dificuldades com compromisso político, com estabilidade, com diálogo e capacidade de tomar decisões”, começou por introduzir o líder da bancada socialista, que assinala que a estabilidade “é um valor em si mesmo” que se torna fundamental quando “os mares são mais turbulentos”.
E se dúvidas houvesse que o líder parlamentar do PS se referia ao pacote de habitação, foi o próprio Eurico Brilhante Dias que voltou a citar o melão, a fruta mais citada na Assembleia da República:
“Não vou falar de melões por abrir ou já abertos. A estabilidade política é um valor e o diálogo social e institucional é crítico num momento em que o país vive as dificuldades da guerra, da inflação, e também com impactos na habitação”
Como tem feito, o líder parlamentar socialista não se limita a defender o trabalho desenvolvido pelo Governo, mas ocupa uma boa parte da intervenção a distribuir críticas pela oposição, sendo o PSD o alvo mais frequente.
Desta vez, Eurico Brilhante Dias puxou a fita do tempo atrás, até à entrevista de Marcelo Rebelo de Sousa à RTP e ao Público, onde o chefe de Estado afirmou que a direita ainda não é “alternativa política” e que esse fator é algo a ter em conta na eventual decisão de dissolver o Parlamento- opção que o presidente reiterou que não abdica.
O líder da bancada socialista acredita que, nesta altura, o PS é o único titular como partido de Governo: “A oposição continua, muitas vezes, a fazer oposição a si própria. Porque pensa que é na incerteza que se constrói uma alternativa. A alternativa constrói-se sempre com confiança e previsibilidade. Neste hemiciclo, só o PS consegue dar isso”.