Ana Gomes reafirma que Isabel dos Santos utiliza Portugal para lavagem de dinheiro
17-12-2019 - 19:49
 • Renascença com Lusa

A socialista está acusada de ofensa ao bom nome de Isabel dos Santos. A filha do ex-presidente angolano afirmou que o julgamento "já por si é uma vitória".

Ana Gomes, antiga eurodeputada, afirmou, esta terça-feira, em tribunal que a empresária Isabel dos Santos e "outros cleptocratas angolanos" utilizam a banca portuguesa para "branquear" fundos desviados de Angola, em prejuízo do povo angolano.

A socialista falava no Tribunal de Sintra, onde está a ser julgada no seguimento de uma ação cível intentada contra si por Isabel dos Santos, que considera que os 'tweets' publicados em outubro pela diplomata portuguesa ofendem o seu bom nome e reputação, induzindo quem lê os 'tweets' que a empresária é corrupta e usa o Banco Eurobic para lavar dinheiro.

Na sessão de julgamento, Ana Gomes reiterou o conteúdo das publicações na rede Twitter e apontou as diversas participações que fez às instâncias judiciárias e financeiras europeias com o objetivo de investigarem os negócios e a origem do dinheiro investido por Isabel dos Santos em Portugal.

Em sua defesa, Ana Gomes arrolou como testemunha o jornalista e ativista angolano Rafael Marques, condecorado pelo atual Presidente, João Lourenço, pelo contributo no combate à corrupção em Angola.

Na audiência presidida por juíza singular, Rafael Marques alegou que a imagem de Isabel dos Santos, em Angola, é a de uma "pedradora" dos bens públicos porque foi "das pessoas que mais beneficiou dos grandes negócios que o pai [o então Presidente José Eduardo dos Santos] lhe deu de forma abusiva".

O jornalista acrescentou ainda que a empresária tem evitado deslocar-se ao seu país, porque a justiça angolana a pretende ouvir sobre um desvio de mais de 100 milhões de euros que a empresária alegadamente terá feito e saudou Ana Gomes dizendo que é "uma das grandes referências e das poucas vozes em Portugal que se insurguem contra a corrupção em Angola".

Carlos Cruz, advogado de Isabel dos Santos neste processo, chamou a depor o economista Mário Leite Silva, representante da empresária angolana na Efacec, bem como o administrador da NOS Rui Carlos Lopes, para atestarem que todos os negócios em Portugal de Isabel dos Santos foram devidamente acompanhados pelo Banco de Portugal, sem quaisquer indícios de ilegalidade ou suspeita de branqueamento de capitais.

Tanto Ana Gomes como Rafael Marques apontaram que com a mudança política em Angola, isto é, a chegada ao poder de João Lourenço, existe agora um processo instaurado pela procuradoria angolana para investigar a saída de mais de 100 milhões de dólares dos fundos da Sonangol para empresas controladas por Isabel dos Santos.

A juíza marcou para quinta-feira à tarde (15:30) a realização das alegações deste processo cível motivado pelos 'tweets' de Ana Gomes de que esta se recusa a retratar, optando por subscrever na íntegra tudo o que disse e escreveu sobre a engenheira e empresária angolana que é considera uma das mulheres mais ricas de África.

Isabel dos Santos afirma que julgamento "já por si é uma vitória"

A empresária Isabel dos Santos afirmou que a realização do julgamento do processo que interpôs contra Ana Gomes “já por si é uma vitória” e que pretende “limpar” em tribunal o seu nome de “sucessivas calúnias”.

As declarações à agência Lusa, surgem a propósito do julgamento que arrancou, esta terça-feira. Isabel dos Santos acrescentou que a antiga eurodeputada “tem vindo, há vários anos, a fazer uma campanha politicamente motivada, negativa e falsa” contra si.

“Durante muito tempo, na qualidade de eurodeputada, gozou de imunidade pelo que anteriormente não foi possível tomar nenhuma atitude em relação às falsas acusações e mentiras por ela proferidas. Ao deixar de ser eurodeputada, surgiu pela primeira vez a possibilidade de ir à Justiça reclamar pelo meu bom nome”, afirmou.

Assegurou que “independentemente do resultado” deste processo, “é já uma grande vitória termos acesso à Justiça e o tribunal ter aceitado julgar este caso, reconhecendo que há matéria para julgamento”.