O presidente da Cáritas acha que o Governo deve reunir também com o CDS e com o PSD para negociar o Orçamento do Estado para 2020.
As negociações arrancam esta terça-feira, mas só contemplam os partidos à esquerda.
As reuniões começam com o PAN ao início da tarde, depois os Verdes e ao final do dia com o Bloco de Esquerda.
Em declarações à Renascença, Eugénio da Fonseca lamenta que não haja encontros com a direita e considera que nalgumas áreas como a saúde, a educação ou a habitação devia mesmo chegar-se a um pacto de regime, alertando que as ideologias não matam a fome, nem dão saúde.
“Gostava de ir mais além. Gostava que houvesse um compromisso político, um pacto de regime, nas negociações dos orçamentos. Porque há investimentos que não são despesa, são mesmo investimentos. Estou a falar na saúde, educação e habitação”, diz.
“A própria lei do arrendamento não agrada nem a proprietários nem a inquilinos e nós não podemos ter os arrendamentos que se praticam hoje nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto.”
Eugénio da Fonseca lamenta que os partidos percam tanto tempo com “birras parlamentares”.
“Gostava de acreditar que fosse possível. Costumo dizer, sem menosprezar os ideais que cada um persegue, as ideologias não matam a fome nem dão saúde. Os nossos políticos demonstravam ao país, que está tão alheado da democracia representativa e participativa, se houvesse esse pacto dizer nesta, nesta e naquela área vamos consensualizar medidas, porque eles foram eleitos pelo povo para servir as causas do povo e não para andarem com birras parlamentares motivadas pelos partidos em questão, que nada interessam às pessoas.”
Salário mínimo em 655 euros já em 2020
O líder da Cáritas Portuguesa também tem sugestões para a questão do salário mínimo, que também começa a ser discutida esta semana. O governo deverá nesta quarta-feira apresentar a proposta de aumento do salário mínimo para 2020.
Eugénio Fonseca considera que o valor de base ideal deve ser de 655 euros já no próximo ano e admite até que se possa ir além dos 750 euros em 2023. “O ideal era termos uma aproximação a um valor que estivesse entre as duas propostas das centrais sindicais. Eu gostava de apontar para um valor que já não fosse negociável, na ordem dos 6% de que o Governo tem falado, que é os 655 euros. Não sendo aquilo que me satisfaz, é o que me parece mais realista dado o tipo de economia que temos, muito assente nas pequenas e médias empresas, algumas delas pequeníssimas. O resto seria distribuído pelo resto da legislatura.”
“É óbvio que depois, à medida do crescimento da economia, temos a possibilidade de até acrescentar algum ponto, porque a nossa riqueza não pode ir só para infraestruturas, tem de ir também para as pessoas e uma das formas é através do salário que auferem”, conclui, lamentando que Portugal tenha dos salários mais baixos da União Europeia.