A Universidade de Lisboa antevê um ano cheio de dificuldades devido à crise energética. Em declarações à Renascença, o reitor admite que só com a ajuda do Governo, vai ser possível pagar a conta da eletricidade e do gás, que no próximo ano vai mais do que duplicar.
“O presente ano letivo já foi um ano em que houve subidas e iremos pagar cerca de oito milhões de euros. Já lançámos o concurso para 2023 e o preço base é de 17 milhões de euros”, adianta o reitor Luís Ferreira, admitindo que “é um valor muito, muito elevado”.
“Vamos precisar da intervenção do Governo, porque de outra forma temos muita dificuldade em arcar com estes custos”, destaca.
Neste contexto, defende que o Governo defina uma verba específica para as despesas com a energia e admite que está preocupado e quase fica sem palavras quando questionado sobre onde vai arranjar o dinheiro para pagar a conta da energia.
“Pois essa é uma boa pergunta…essa é uma boa pergunta precisamos que o Governo nos ajude a resolver este problema. É a única solução que temos, é através do reforço da dotação orçamental para esta componente de custos”, insiste.
Luis Ferreira não esconde que ficou desapontado com as recentes declarações da ministra do Ensino Superior, que admitiu que ainda não pensou sobre uma solução para ajudar as instituições de ensino a fazerem face aos custos da energia.
“Fiquei desapontado porque estava à espera que houvesse já alguns caminhos. Temos de assegurar que isto continua a funcionar. Nesta altura já esperaria da parte do nosso ministério uma atitude mais proactiva”, sublinha.
Governo não cumpre contrato assinado na anterior legislatura
O reitor da Universidade de Lisboa lembra que a inflação está a colocar muitos desafios às instituições de ensino, porque o Governo não está a cumprir o contrato assinado na anterior legislatura.
“Estamos muito longe daquilo que são as nossas necessidades. Tínhamos um contrato de confiança com o Governo que dizia que se a inflação fosse superior a 2%, o Governo fazia um aumento correspondente à inflação e isto não aconteceu. Também por aqui estamos em dificuldades”, sinaliza.
Segundo o reitor, “eles [Governo] estão bem cientes disto, que há uma rutura daquilo que é o contrato de confiança”, admitindo que “a situação é excecional” e que “esta inflação não era esperada quando foi assinado o contrato”.
“Mas a verba transferida fica muito aquém daquilo que são as necessidades mais básicas. No caso da universidade de Lisboa, o OE apenas paga 75% dos salários, a diferença e todo o funcionamento da universidade é feito com verbas próprias”, destaca.
Luis Ferreira está preocupado com a falta de alojamento para os estudantes. As camas disponíveis estão longe de satisfazer as necessidades e no mercado de arrendamento já escasseia o alojamento.
“Eu creio que estamos a viver o pior ano de sempre porque nunca tinha ouvido dizer que estudantes Erasmus estavam a cancelar as inscrições porque não estavam a arranjar alojamento. Desta vez por alguma razão não estão a encontrar esse tipo de saídas”, alerta.
E no dia em que se realiza a cerimónia de abertura do ano académico da Universidade de Lisboa, o reitor lembra que as praxes estão proibidas:
“A humilhação não é aceitável em caso nenhum e não aceitaremos dentro das nossas instalações de forma nenhuma” Quando vão para espaço público não temos muito como proibir estas situações ou impedir que elas aconteçam”, diz.
A sessão solene de abertura do ano académico na Universidade de Lisboa vai acontecer esta tarde, às 15h00. Neste ano letivo a universidade acolhe 7.500 novos alunos e os responsáveis não escondem as preocupações, que vão além do ensino propriamente dito.