“Queremos melhor democracia, onde a liberdade não seja esvaziada pela pobreza”, disse Marcelo Rebelo de Sousa no seu discurso de posse para o segundo mandato como Presidente da República.
No discurso, o Presidente enunciou as suas prioridades para este mandato, a começar pela defesa da democracia, seguindo para o combate à pandemia, a reconstrução da vida das pessoas e a garantia da coesão social, dizendo que é urgente “construir um só Portugal”.
Ao longo do discurso, à medida que foi enunciando as suas cinco prioridades ou missões (usou os dois termos), o Presidente foi associando a defesa da democracia e a preservação da coesão social, deixando claro que o combate à pobreza e às disparidades também é essencial ao funcionamento do sistema democrático.
A primeira prioridade que enunciou foi a defesa da democracia, com o aviso de que não pode ser esvaziada por condições sociais precárias, nem por divisões com origem na naturalidade ou na cor da pele “em nome do mito do português puro”. Defendeu a estabilidade, mas “sem pântano” e a proximidade sem deslumbramentos.
A segunda prioridade, que reconheceu como mais imediata, é o combate à pandemia, tendo pedido o aumento de testes e de rastreios.
Em terceiro lugar, definiu como missão “a reconstrução da vida das pessoas”. Reconstrução em termos de emprego, rendimentos, tecido empresarial, mas também saúde mental. E aí fez questão de dizer que é preciso “usa os fundos europeus com clareza estratégica” e nunca esquecendo o papel fundamental das Forças Armadas e das Forças de Segurança.
A quarta missão é garantir a coesão social. “Urge construir um só Portugal”, disse o Presidente, salientando que há “vários portugais cada vez mais distantes entre si” e que a pandemia veio agudizar essas disparidades. Por isso, relacionando a terceira e a quarta prioridades, Marcelo disse que o objetivo não é regressar aos níveis de 2020, mas reconstruir um Portugal mais equilibrado e coeso.
A quinta prioridade definida pelo Presidente é “aprofundar a vocação” de Portugal “para plataforma para o diálogo entre culturas e continentes”.
O mesmo, antes e depois das eleições autárquicas
Marcelo Rebelo de Sousa iniciou o seu discurso lembrando os portugueses mais desfavorecidos, a começar pelos sem-abrigo ou pelos que, tendo teto, não têm casa em condições. Mas também os da sua idade que, em casa ou em lares de terceira idade, os desempregados ou em lay off e os estudantes “atropelados” em dois anos letivos consecutivos.
Depois fez uma breve revisitação dos últimos cinco anos, lembrando o estado em que o país se encontrava e o que foi feito, dizendo que foi possível “atenuar pobreza e algumas disparidades sociais”, mas que também a dizer que foram adiados investimentos e a lamentar que não se avançasse mais na reforma da justiça. Recorde-se que Marcelo Rebelo de Sousa promoveu, no primeiro mandato, um pacto para a justiça que, na campanha eleitoral para a reeleição, lamentou ter falhado e responsabilizou os políticos por esse falhanço.
“À entrada de 2020, Portugal e a Europa esperavam novos ciclos”, disse Marcelo, ainda assim ressalvando que em Portugal “onde a economia deixava adivinha tempos mais propícios, a política antecipava tempos mais imprevisíveis”, devido ao crescimento de novas expressões políticas. Mas depois veio a pandemia e tudo mudou, daí que seja necessário aprender o que se passou no último ano e cumprir as cinco prioridades/missões que definiu para si próprio.
Quanto ao futuro, Marcelo prometeu ser o mesmo, igual a si próprio. “Sou o mesmo de há cinco anos, o mesmo de ontem, nos mesmos e exatos termos, eleito e reeleito para ser o Presidente de todos vós. Com independência, espírito de compromisso e estabilidade, proximidade, afeto, preferência pelos excluídos, honestidade, convergência no essencial, alternativa entre duas áreas fortes, sustentáveis e credíveis, rejeição de messianismos presidenciais”, disse, quase a terminar.
O Presidente também quis contrariar o que pensam que as eleições autárquicas podem marcar uma segunda fase dos seu mandato, afirmando que nenhuma eleição o vai mudar.
“Foi assim, assim será, com qualquer maioria parlamentar, com qualquer governo, antes e depois das eleições autárquicas, antes e depois das eleições parlamentares, antes e depois das eleições europeias, antes e depois dos 50 anos do 25 de abril em 2024”, garantiu, antes de concluir a desejar “que os próximos cinco anos possam ser mais razão de esperança do que de desilusão”.