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“Os números são como que flechas que ferem a alma cada vez que diariamente os ouvimos." A partir de Itália e com atenção permanente ao que se passa em Portugal, o padre António Bacelar, da Diocese do Porto e que há seis anos se encontra ao serviço do Centro Internacional do Movimentos dos Focolares, encontra paralelo entre os dois países na forma como se partiu para a batalha contra o novo coronavírus.
“Não tendo qualidade ou capacidade técnica ou cientifica para dizer o que quer que seja sobre as medidas que estão a ser tomadas, sinto que há semelhança entre as dificuldades do período inicial que se vive aqui em Itália e um período inicial, que já não é tão inicial como isso, que em Portugal se vive”, sublinha o sacerdote que dá conta “dos frequentes e compreensíveis controles policiais para evitar qualquer tipo de contacto”, cada vez que sai à rua, “ainda que seja uma saída a pé”.
O padre Bacelar vive em Grottaferrata, localidade próxima de Roma e revela à Renascença que “desde o início, para cada saída tem de estar munido de uma justificação”.
Três semanas desde o inicio da rigorosa quarentena, o responsável pelos padres e diáconos permanentes diocesanos focolarinos sente os números diários da pandemia como “flechas que ferem a alma”, por apresentarem a realidade de “muitos irmãos e irmãs infectados em cuidados intensivos ou que mesmo, diariamente, perdem a vida”.
Mas o sacerdote admite também que há números que “nos consolam e nos sustentam por nos revelarem quem, diariamente, consegue ver e alcançar a cura, fruto do enorme esforço dos profissionais de saúde e dos voluntários, dos dirigentes, das autoridades municipais e do governo central”.
São ainda os números que inquietam o padre Bacelar “pela incerteza e perplexidade que muitas famílias, trabalhadores e empresários encontram em relação ao futuro e ao pós-crise”. Ainda assim, diz o padre da diocese do Porto, “é comovente a capacidade, a resiliência e o exemplo que, misturado com tanta dor, nos vem do norte, sobretudo da Lombardia”, ainda que “a situação se tenha rapidamente espalhado a todo o país e hoje todo o país ser uma zona de emergência”.
Comovente é também “a viral história do padre - irmão nosso - que, no norte, prescindiu do seu ventilador para que um outro mais jovem o pudesse usar, pagando assim com a própria vida”. Por outro lado, o padre Bacelar emociona-se com o número de chamadas telefónicas ou mensagens, por exemplo, da Síria, da China e da Coreia “onde irmãos nossos se prontificavam também a fazer chegar por exemplo as máscaras que continuam ainda a escassear”, muito embora “estejam agora em grande produção com a reconversão de fábricas”.
A viver num centro internacional, habituado ao movimento de partidas e chegadas, por estes dias o sacerdote relata “o cancelamento ou adiamento de todos os eventos que estavam preparados para este ano, ao nível do movimento focolare” e a forma como a comunidade se está a adaptar para prosseguir o seu trabalho.
De acordo com o padre António Bacelar, "0s encontros de trabalho continuam a acontecer com o recurso aos modernos meios que muito facilitam esse trabalho conjunto” e, por exemplo, “foi possível encontrar-se o conselho geral do movimento, com todos os membros presentes – 64 – em conferencia vídeo para grande alegria mutua” por sentirem “poder continuar a trabalhar e a servir juntos e a ajustar os programas na medida do possível”.
Em relação à sua própria experiência, o sacerdote recorda “ter podido visitar muitos países fora da europa em praticamente todos os continentes” e também “os contactos mantidos, diria diariamente” para manifestar os seus maiores receios “ que estão no centro da nossa oração e que são as populações mais desfavorecidas, sem acesso aos mínimos cuidados de higiene, começando com a falta de água potável, com condições muito débeis da própria habitação”, sobretudo “nas grandes densidades populacionais das grandes cidades e dos grandes arredores das grandes cidades”.
O padre Bacelar pensa em particular “em África mas também na América do Sul, e nas grandes cidades e na concentração de população” para expressar a sua profunda preocupação “pelas proporções da pandemia nesses locais” onde é mais raro o acesso aos cuidados de saúde. “Podemos imaginar que se aqui vivemos a dificuldade que vivemos, o que será ou o que poderá ser, se uma pandemia destas assumir proporções proporcionais em Continentes como a Africa, ou a América do Sul, ou mesmo algumas zonas da Ásia mais desfavorecidas”, remata o padre António Bacelar.