Maiores ou mais pequenos, com expressão mais local ou de âmbito nacional ou mesmo internacional, todos estão a registar reservas de portugueses e – cada vez mais – de mercados estrangeiros. Nalguns casos sempre em crescendo, noutros a sentir uma estagnação na subida nas últimas duas semanas. O que explicam com o conflito no leste europeu e que acaba por gerar alguma insegurança entre aqueles que querem viajar.
A maior parte dos grupos ainda não subiu preços, mas todos consideram que, em breve, será inevitável. Cristina Siza Vieira, presidente executiva da AHP – Associação da Hotelaria de Portugal - confessa que não se admiraria se os preços, este ano, aumentassem na ordem dos 8%.
Dois anos depois, as expetativas são elevadas
“As nossas reservas apontam para uma recuperação generalizada em todas as regiões onde estamos, a começar pela Madeira”, diz à Renascença Bernardo Trindade, administrador do Grupo Porto Bay. O hoteleiro espera que a guerra não se arraste, para que as pessoas possam recomeçar a viajar e a ter momentos de lazer, “que bem precisam”.
No Grupo Via Galé, as reservas começaram a subir, semana a semana, desde meados de janeiro, mas “depois do início da guerra, sentimos uma certa estagnação nessa subida, estabilizaram”, revela Gonçalo Rebelo de Almeida, administrador do grupo hoteleiro.
Quanto aos mercados, além do nacional que “continua a responder bem”, há fluxos “muito simpáticos” dos estrangeiros. Gonçalo Rebelo de Almeida destaca o Reino Unido e Irlanda, o mercado do Golfe, já com expressão significativa este mês e em abril, assim como a Alemanha. Os países Baixos, a Bélgica e os Países escandinavos também dão sinais positivos e o mercado francês é que ainda está relativamente tímido. Quanto aos turistas espanhóis, tradicionalmente, “marcam em cima da hora”. Os mercados “mais parados”, por enquanto são os do Brasil e Estados Unidos.
Para o Vila Galé, os mercados russos e ucraniano não tinham expressão. O mesmo não se pode dizer do polaco, muito importante, especialmente para o Algarve e Madeira, de maio a outubro. E esse, admite Gonçalo Rebelo de Almeida, pode ser mais afetado.
Este é um mercado emissor particularmente importante para Fátima. Alexandre Marto Pereira, CEO do Grupo Hotéis de Fátima, diz que “as coisas ainda estão pouco claras,
mas não há cancelamentos”. Pelo contrário, refere que, desde o início da guerra, há polacos que têm vindo de propósito a Fátima para rezar pela paz.
O hoteleiro revela que o mercado nacional, responsável por 30% da ocupação hoteleira antes da pandemia, já recuperou totalmente. E entre turistas europeus, para além dos polacos que “regressaram com grande intensidade”, destaca os espanhóis. “Este ano até podemos ter um reforço e ultrapassar os números de 2019”.
Alexandre Marto Pereira diz que o grande problema continua a ser o dos mercados longínquos, que desapareceram com a pandemia e ainda não retornaram. Só a Coreia do Sul, com forte impacto na receita turística, representou 100 mil noites, em 2019.
Do Brasil já chegam alguns turistas e peregrinos; os Estados Unidos iam no mesmo caminho, mas com a guerra, travaram a fundo: “os norte-americanos são muito receosos e quando ouvem falar em guerra na Europa, já não querem vir, mesmo se Portugal está na ponta oposta ao conflito”.
Também Jorge Costa, administrador da cadeia Montebelo vê sinais positivos na procura e nas reservas. Apesar das reservas serem feias, cada vez mais, em cima da hora, os sinais, para a Páscoa, são muito positivos.
Se a guerra gera incerteza e insegurança, também pode significar oportunidade. É o que pensa Bernardo Trindade, que dá o exemplo do que aconteceu com a Madeira, durante a pandemia. “Devido ao encerramento de outros mercados mais longínquos, turistas de países que desconheciam em absoluto a Madeira, vieram para cá, conheceram e têm mostrado interesse sustentado para reforçar essa operação. É o caso dos mercados polaco, dos países bálticos (Lituânia, Letónia, Estónia) ou República Checa, que compensaram a perda da operação com a Rússia e a Ucrânia”.
No entanto, Cristina Siza Vieira, da AHP, alerta que “estamos a concorrer com a Espanha, Grécia, Itália”, que também querem aproveitar a oportunidade de crescer com novos mercados emissores.
“Ainda vamos ver como evolui este conflito, mas há uma grande avidez de viajar, a que se juntou uma poupança forçada pelo lock-down, e os hoteleiros têm expetativas elevadas”.
Preços vão subir, é inevitável
Mais certezas tem a dirigente associativa em relação aos preços a praticar na hotelaria (alojamento e restauração): “vão subir, é inevitável. E já está a acontecer. É impossível não fazer refletir sobre o cliente os custos acrescidos com o aumento do preço dos combustíveis, de energia, bens alimentares e serviços”.
Cristina Siza Vieira diz que não se admiraria muito se, este ano, os preços sofressem um agravamento na ordem dos 8%. Refere ainda que há muitos hoteleiros que vão apostar numa ocupação mais baixa (até porque há falta de mão-de-obra), mas com um serviço de maior qualidade e preços mais altos. Porque a procura mantém-se”.
Gonçalo Rebelo de Almeida garante que o Grupo Vila Galé ainda não aumentou os preços, mas é bem provável que tal aconteça em breve. “Na parte alimentar é certo; no alojamento, vamos tentar mas também poderá ser necessário um ajustamento”.