Um grupo de soldados de Myanmar foi acusado de reunir 11 pessoas numa aldeia, no centro do país, tendo posteriormente disparado tiros e incendiado os corpos.
Segundo a agência Reuters, que cita moradores da área e relatos da imprensa, os restos dos corpos carbonizados foram encontrados numa vila, em Sagaing, uma área que tem sido placo de lutas ferozes entre as forças de segurança e a milícia criada pelos opositores do regime militar desde o golpe de Estado em 1 de fevereiro.
Várias imagens em vídeos que circulam nas redes sociais mostram os corpos queimados e há moradores a afirmar que “algumas das vítimas ainda estavam vivas quando foram queimadas”, no entanto, a Reuters ressalva que não pôde “verificar de forma independente a autenticidade das imagens”.
De acordo com um auxiliar voluntário na área, citado pela agência de notícias, o ataque aconteceu na terça-feira.
“As tropas matavam brutalmente qualquer um que pudessem encontrar", disse o voluntário, citando relatos de testemunhas. O voluntário contou ainda que ajudou as pessoas que fugiram de Don Taw e de outras aldeias próximas, acrescentando que as vítimas mortais eram membros da milícia ou civis comuns.
Desde que os militares derrubaram o governo democraticamente eleito de Aung San Suu Kyi, o caos tem tomado conta de Myanmar (antiga Birmânia), com protestos generalizados e a formação de milícias, conhecidas como Forças de Defesa popular (PDF), para enfrentar o exército bem equipado.
Kyaw Wunna, membro de um PDF na região, disse à Reuters, por telefone, que foi informado de que as tropas chegaram ao local e disparam tiros e que as pessoas foram levadas para um campo perto da aldeia antes de serem mortas.
Já outro auxiliar voluntário disse ter falado com testemunhas entre algumas das 3.000 pessoas que haviam fugido de cinco aldeias da região e tinham-se escondido, com medo de mais prisões e assassinatos.
Um familiar de uma das vítimas disse à Reuters que o homem morto, Htet Ko, era um estudante universitário de 22 anos e não membro de nenhuma milícia e que não estava armado. "Isso é desumano. Sinto uma dor profunda no coração", disse.
Já o porta-voz do governo civil sombra de Myanmar criado após o golpe, Dr. Sasa, afirmou que as vítimas tinham sido "amarradas juntas, torturadas e, finalmente, queimadas vivas".
Num post no Twiter, publicou a lista com o nome das 11 pessoas que foram mortas, todos homens e incluindo um menino de 14 anos, lamentando os “ataques horríveis” que “mostram que os militares não têm respeito pela santidade da vida humana”.
Também o porta-voz da ONU, Stephane Dujarric, já veio dizer que as Nações Unidas estão profundamente preocupadas com os relatos do “terrível assassinato”.
“Condenamos fortemente esta violência e lembramos as autoridades militares de Myanmar das suas obrigações sob o direito internacional para garantir a segurança e a proteção dos civis. Os responsáveis por este ato hediondo devem ser responsabilizados”, disse Dujarric, citado pela Reuters.
Segundo a Associação de Assistência para Presos Políticos (AAPP), um grupo de monitorização citado pelas Nações Unidas, mais de 10.700 civis foram detidos e 1.300 mortos pelas forças de segurança desde que os militares tomaram o poder.