“Vou surpreender os portugueses e dizer que estou a 90% de acordo com a Mariana Mortágua”, disse Luís Montenegro, sobre a proposta de proibir o uso de telemóveis no recreio das escolas. Uma frase que ilustra a quase unanimidade que a questão tem nos partidos políticos com exceção da Iniciativa Liberal, no debate da Rádio, que decorreu esta segunda-feira.
A porta-voz do BE, Mariana Mortágua, concorda com restrições nos primeiros ciclos e lembrou que o Bloco tem uma medida nesse sentido. “Temos de refletir sobre o impacto excessivo dos ecrãs e das redes sociais”, afirmou.
Mortágua disse ser necessário “dar um passo atrás e refletir sobre a atualização de manuais digitais”. “O recreio deve ser para socializar e brincar”, acrescentou.
O presidente do PSD Luís Montenegro introduziu apenas um acrescento às ideias do Bloco. Diz que deve estar prevista alguma autonomia às direções dos agrupamentos escolares para poderem decidir.
Foi uma tecla em que Rui Rocha carregou. O líder da Iniciativa Liberal disse ter “uma visão completamente diferente deste tema”. Rocha quer que sejam as escolas a decidir o que melhor serve as suas comunidades e não o Estado a proibir.
Já Paulo Raimundo declarou que é preciso soluções para que as crianças “brinquem”. O problema central, segundo o comunista, é esse. E para o resolver, pediu “menos alunos por turma”. “Não dá para jogar à bola com telemóvel”, ironizou. Rui Tavares explicou que a limitação pode ser imposta e que acompanha essa vontade.
Pedro Nuno Santos também quer mais “convívio” entre as crianças, e diz que os ecrãs de telemóvel o perturbam. Este caminho de proibição, para o PS, deve ser “generalizado”. Já há algumas experiências diversas pelo país, neste sentido, e com bons resultados segundo os responsáveis escolares.
Sousa Real pediu mais espaços com “ar livre” nas escolas e sem uso de telemóvel. A líder do PAN sugeriu mais aulas ao ar livre e “mindfulness”.
PCP não quer dinheiro para financiar esforço militar na Ucrânia
Nesta fase do debate, em que foram feitas perguntas avulsas, a guerra na Ucrânia esteve também em destaque. “Portugal deve manter o apoio financeiro e militar à Ucrânia? Em que moldes?”. Todos responderam que sim. Mas também neste tema houve um mas.
Paulo Raimundo explica que o partido defende o financiamento para a reconstrução e recuperação, mas é contra o apoio militar. “Apoiamos a paz. Vemos até onde a guerra nos trouxe até aqui”, disse o comunista.
Em relação ao ciclo eleitoral de compensação, houve uma divisão clara. Os dois maiores partidos são contra, os restantes são a favor.
700 mil votos perdidos sem ciclo de compensação
O PAN falou de mais de 500 mil votos que se perdem, quando é preciso combater a abstenção, número que a Iniciativa Liberal elevou para mais de 700 mil que se perdem. “É um problema da democracia”, afirmou Rui Rocha.
Luís Montenegro disse que mais importante é dar mais representatividade aos territórios menos povoados, porque é preciso representar as pessoas, mas também o sítio em que vivem.
O Livre disse ser incompreensível que PS e PSD não concordem com a criação de um ciclo de compensação. Pedro Nuno Santos desvalorizou a questão e diz que não há em Portugal um problema do sistema eleitoral, mas sim de governabilidade.
Em relação ao dia de reflexão antes do dia da votação, os partidos foram unanimes em concordar com a manutenção. Nova exceção para a Iniciativa Liberal com Rui Rocha a dizer que é algo que não faz sentido e “está ultrapassado”.
Paulo Raimundo ironizou: “Depois de 15 dias, sabe bem para refletirmos na horizontal”.