O líder do PCP deixou hoje sem resposta direta o apelo do primeiro-ministro para uma base política "de entendimento sólida e duradoura", insistindo na necessidade de uma política "de esquerda" e "patriótica"
"O caminho para um país mais desenvolvido e mais justo exige uma política de esquerda e patriótica", afirmou Jerónimo de Sousa numa pergunta a António Costa no debate do estado da nação, no parlamento, em que também fez críticas ao PS por ter recusado o suplemento de penosidade e risco para os trabalhadores da função pública.
Para Jerónimo, foi um "péssimo sinal dado pelo PS", com "a cambalhota" de recusar o suplemento e acusou os socialistas de, apesar das palavras de elogio aos trabalhadores, "soçobrem aos critérios do Ministério das Finanças".
Depois de ouvir Costa, dirigindo-se aos ex-parceiros de esquerda, a dizer que Portugal precisa de uma base de entendimento política sólida, o líder dos comunistas não deu uma resposta direta.
Deixou, no entanto, uma série temas que o PCP considera importantes para dar “resposta aos problemas do país” e pode ser entendida uma resposta indireta ao apelo de Costa.
Jerónimo de Sousa voltou a defender a revisão da legislação laboral, “um aumento geral de salários”, a “valorização de carreiras”, a “reposição das 35 horas semanais”, e “o combate à precariedade”.
E após ouvir o líder do PCP, António Costa concluiu que pode ser possível esse entendimento.
“Temos uma boa área de convergência” e “temos boas condições pata trabalhar”, afirmou o primeiro-ministro, dando como exemplo a defesa da reindustrialização do país, a valorização da produção nacional e da agricultura.
O primeiro-ministro considerou hoje que Portugal precisa de uma base de entendimento política sólida, afirmando que essa condição é indispensável com a atual crise pandémica e rejeitando "competições de descolagem" entre partidos e "calculismos" eleitorais.
Esta mensagem sobretudo dirigida às forças à esquerda do PS na Assembleia da República foi deixada no discurso de António Costa na abertura do debate do estado da nação.
"Precisamos de uma base de entendimento sólida e duradoura. Se foi possível antes, certamente terá de ser possível agora. Se foi útil antes, revela-se indispensável agora, ante o desafio de vencer uma crise pandémica com aquela que nos assola", justificou o líder do executivo.
Em resposta à acusação de que PS e Governo estão debaixo de uma "submissão" à Europa, António Costa respondeu a Jerónimo de Sousa: "Sabemos o que nos distingue, mas esta não é a melhor semana para dizermos mal da Europa."