O eurodeputado Paulo Rangel considera que o congresso do PSD do próximo fim-de-semana tem de "ser o ponto de arranque para uma oposição mais agressiva ao Governo, sem esperar por eventuais ajudas" de Belém.
Em entrevista ao jornal “Público”, o social-democrata diz que "está nas mãos dos congressistas, e também da liderança, fazer do congresso o momento de retoma de uma oposição mais agressiva, que já poderia estar em marcha desde a eleição do Presidente da República".
O congresso realiza-se entre sexta-feira e domingo, em Espinho, e Paulo Rangel considera que deveria marcar o início de uma intervenção reforçada por novas caras e com nova agenda.
"Precisamos de duas coisas: de um conjunto de rostos que falem pelo partido, que em certo sentido poupem o próprio líder a uma intervenção quase diária; e de uma agenda reformista, que eu concentraria num ponto, que até tem que ver com uma certa autocrítica sobre aquilo que foram os nossos últimos quatro anos e meio", afirma ao jornal.
Nesse sentido, "é preciso reactivar um conjunto de porta-vozes, para que as intervenções do líder sejam valorizadas em função da diferente gravidade dos assuntos".
"Este é um aspecto importantíssimo que exige a renovação da equipa, porque implica trazer rostos novos. Não sei se é um ‘Governo-sombra’, se é uma equipa de porta-vozes. Serão pessoas que têm uma história no PSD recente ou que não têm estado tão envolvidas politicamente e há ainda outras que têm de ser recuperadas", esclarece.
Questionado sobre se Pedro Passos Coelho é o homem certo para essa reinvenção, o eurodeputado, professor e advogado sublinha ser "bom que alguém que foi líder e que primeiro-ministro possa continuar a ser líder e vir a ser primeiro-ministro".
"É essa a tradição em muitos países e é essa a tradição portuguesa. Sá Carneiro, Freitas do Amaral e Mário Soares perderam as eleições e ninguém se lembrou de os pôr em causa. No caso de Passos Coelho, até ganhou as eleições", sustenta.
Outra ideia de Paulo Rangel “passa por trazer para o partido aqueles portugueses que emigraram nos últimos cinco anos. Mas, para isso, tem de haver uma secretaria geral do partido a incentivar", considera.
Questionado sobre se a coabitação entre um Governo PS e um Presidente da República que é do PSD não pressiona o próprio partido a fazer uma oposição de uma maneira diferente, o eurodeputado diz que a "variável presidencial é uma variável independente".
"O PSD não deve pedir, nem esperar nada do Presidente. O Presidente tem de fazer aquilo que lhe compete. Não temo de esperar nada do Presidente. Nem nós, nem o PS".
Na entrevista, Paulo Rangel afasta uma eventual candidatura à liderança do PSD em 2017, considerando "haver muita gente com valor para isso” – por exemplo, Rui Rio, que já disse que não irá ao congresso do partido.
“Vou ao congresso dizer o que penso. Se outros acham que não devem ir, é um problema deles", reage o eurodeputado.