Chega quase a arfar. Vem a Telheiras para fazer umas análises. António Martins veio a pé, do Campo Grande, porque não sabia do encerramento da estação de metro.
"Não, não sabia. Agora estou aqui, mas vim a pé do Campo Grande até aqui. E ainda não comi, porque venho fazer umas análises", diz, enquanto recupera o folêgo para fazer o resto do caminho, até ao Hospital das Forças Armadas.
Antes de se fazer á estrada, ainda refere que há "muita gente nas estações", e que o metro é curto para tantos utentes.
Matilde Carmo está ali ao lado, de telemóvel na mão e atenta ao ecrã preso à paragem de autocarro que, em tempo real, revela a que horas passa o próximo autocarro.
"Agora demoro mais tempo a fazer o percurso habitual", garante a jovem estudante do ensino secundário. "Tenho de apanhar dois autocarros, os horários são mais complicados, o autocarro vai muito mais cheio do que o metro e por vezes os autocarros não aparecem", desabafa.
O transtorno é grande, na opinião de Wilma Miguel, que leva pela mão o filho, a caminho da escola.
"É uma confusão muito grande. Passo a manhã a fazer "piscinas". Vou atè ao Campo Grande de autocarro e de lá, troco de transporte para o metro. O que me faz acordar mais cedo todos os dias"
Em alternativa à Carris, há quem, como Susana Prado, opte pelas "giras", do serviço de bicicletas partilhadas de Lisboa. Quando as há, porque "nem sempre os terminais tem bicicletas disponíveis de manhã".
Por isso, há que garantir esta alternativa ao habitual transporte. "Poer vezes, levanto-me mais cedo, venho buscar uma gira, deixo-a em casa e vou passear a minha cadela. E depois, sigo para o trabalho. Isto para salvaguardar a minha entrada às nove da manhã", explica Susana Prado.
Também entra às nove no trabalho, mas em Telheiras, onde acaba de chegar, graças ao serviço de partilha e aluguer de scooters elétricas. Antónia Kope guarda o capacete e explica que é complicado chegar ao Campo Grande, onde apanhou a scooter.
"É um pouco complicado. O metro ontem estava muito mais pequeno e muito mais cheio".
Presidente da Junta pede alternativas
Ricardo Mexia, o presidente da Junta de Freguesia do Lumiar, sublinha que o problema não é só o encerramento da estação de Telheiras.
"Há uma questão mais global: o que está a acontecer é algo que é uma espécia de anúncio do que vai acontecer no futuro, com a solução da Linha Circular preconizada pelo governo e pelo Metro. Quem entrar nas estações do Lumiar vai ter de mudar de linha no Campo Grande para aceder ao centro da cidade - o que não acontecia até agora.
E o anunciado reforço de carreiras da Carris não chega, na opinião do autarca.
"Não chega até porque os trajetos são diferentes e as necessidades são diferentes. Era fundamental que houvesse uma preocupação do Metro - e não apenas sacudir a água do capote - em encontrar uma alternativa para as pessoas".
Ainda faltam dois meses para as obras da Linha Circular do Metro de Lisboa terminarem.