O ex-presidente social-democrata Luís Marques Mendes considerou, na quarta-feira, que existe "muito boa gente" no PS e no PSD interessada em que não se investigue o que se passou na gestão da Caixa Geral de Depósitos (CGD).
"Vai haver muito boa gente em Portugal do PS e do PSD interessado em que não se investigue nada e que não se esclareça nada, porque, evidentemente, que há responsabilidades do chamado bloco central de interesses da gestão da Caixa, sobretudo nos anos entre 2005 e 2010", afirmou o ex-líder social-democrata num jantar-conferência na Universidade de Verão do PSD, que decorre em Castelo de Vide até domingo.
Respondendo a uma questão colocada pelos "alunos", Marques Mendes recordou que a actual situação da Caixa Geral de Depósito decorre de prejuízos criados ao banco público, sobretudo por uma dezena de operações de financiamento concedidas entre 2005 e 2010.
"Há 10, 12 operações que foram absolutamente ruinosas, porventura financiamentos que não deviam ter sido concedidos, financiamentos que não foram concedidos com garantias minimamente eficazes, porventura financiamentos concedidos a troco de favores políticos", disse, considerando que, se o Estado tem agora de meter dinheiro na Caixa, ao menos que se esclareça o que aconteceu e apure responsabilidades.
Contudo, acrescentou, apesar de, em Junho, o Governo ter decidido em Conselho de Ministros a realização de uma auditoria, até agora nada foi feito e "ninguém fala da auditoria".
"Muito boa gente de dois, três partidos vai querer que tudo seja varrido para debaixo do tapete e acho que tudo deve ser esclarecido e escrutinado", insistiu.
Ainda a propósito da reestruturação da CGD, o antigo presidente do PSD considerou que "no meio da trapalhada monumental" que foi a nomeação da administração da Caixa, ao nível executivo a equipa "é boa", assinalando que "pela primeira vez não há políticos, são profissionais" e que isso é positivo.
"Não é por ter sido designada por um Governo PS que devemos criticar", vincou.
Marques Mendes reconheceu ainda que o processo de recapitalização teve uma "parte final" que acabou por ser positiva, com o Estado a só colocar na Caixa 2,7 mil milhões de euros.
Outra coisa muito positiva, acrescentou, é que a supervisão dos grandes bancos tenha passado para o Banco Central Europeu, porque "o resultado final não teria sido o mesmo" na nomeação da nova administração.
"Somos um país demasiado pequeno em que todos se conhecem", argumentou, considerando que em Portugal "ninguém teria tido coragem" para chumbar algum dos nomes propostos pelo Governo, ao contrário do BCE que recusou oito dos 19 propostos.