Luís Montenegro esteve presente na cimeira do G20, no Rio de Janeiro, e, em jeito de balanço, anunciou um encontro "à margem" com "alguns parceiros" para "partilhar instrumentos e caminhos a percorrer no futuro no âmbito da utilização da inteligência artificial".
Entre os "parceiros" mencionados no encontro em que Portugal participou constam "o Brasil, a Espanha, a Índia, a Itália e a Organização Mundial de Saúde", adiantou o primeiro-ministro português, aos jornalistas, esta terça-feira.
Depois de ter dado "nota do empenho do governo português" em matérias de IA na Web Summit (onde apresentou o modelo de linguagem português - agora batizado de "Amália"), Montenegro acrescentou agora que é seu propósito "dotar a administração pública" dos instrumentos que a Inteligência Artificial lhe possa proporcionar para melhorar a eficácia na resposta "às solicitações de cidadãos e empresas".
"Neste contexto, esta cooperação que hoje estabelecemos é importante e poderá servir para partilharmos soluções que sirvam o interesse da comunidade sem prejudicar a dimensão ética", adianta o primeiro-ministro português, que recentrou, depois, a discussão novamente no principal assunto desta cimeira: o ambiente.
Neutralidade carbónica até 2045 e dívida transformada em "investimento climático"
Levantando o véu sobre a "análise do compromisso dos países do G20 relativamente às alterações climáticas e transição energética", Montenegro revelou que a estratégia portuguesa - ou o "plano nacional para o clima e energia" - tem "objetivos ambiciosos", como "conseguirmos a neutralidade carbónica até 2045", uma redução "de 55% das emissões até 2030" e termos "51% de energia renovável no consumo geral de energia no país" no final da década.
Ao Brasil, Portugal levou também uma "experiência inovadora" portuguesa que tem gerado "curiosidade e interesse" de outros estados e "países amigos": o programa que permite "converter a dívida de alguns países em investimento climático", iniciativa que traz, diz Montenegro, "ganhos na proteção do ambiente e energias renováveis". "Já está em funcionamento com Cabo Verde e está em vias de se implementar em São Tomé e Príncipe", explica, esperando que sirva de incentivo para outros seguirem o exemplo.
"Creio que a experiência que tive ocasião de transmitir pode ser uma inspiração para que outros países possam, no futuro, utilizar este instrumento - que é inovador - para poder ajudar aqueles que têm menos condição económica de superar este desafio das alterações climáticas", deseja.
A presença portuguesa na cimeira do G20 serviu, igualmente, para "reiterar a posição do governo" no que aos oceanos diz respeito. Portugal pretende colaborar em todas as iniciativas de transição energética que "estejam associadas à preservação dos oceanos e da biodiversidade marítima", aproveitando, ao mesmo tempo, "as oportunidades que, no mar, se abrem para a produção de energia".
"Temos em Portugal algumas experiências no domínio da produção de energia offshore, flutuante, solar e eólica. Foi um ponto que foi abordado por outros países, em particular pelo primeiro-ministro da Noruega e pelo Presidente francês, já que a França e a Costa Rica vão, no próximo ano, realizar uma cimeira sobre este tema", salientou Montenegro.
Mil dias de guerra na Ucrânia e os bastidores de uma cimeira onde também se fala russo
No dia em que se assinalam mil dias de guerra na Ucrânia, Luís Montenegro foi questionado pelos jornalistas sobre o ambiente que se vivia no interior da cimeira, onde os dois lados da "barricada" se encontravam representados. Para o primeiro-ministro, "a diferença à volta da mesa não cresceu na realização da cimeira". "Não creio que tenha havido mais divisão do que aquela que já havia", diz, salientando o "grande isolamento por parte da Rússia", com uma "grande maioria" a adotar, durante a cimeira, uma "postura de condenação" e de "contribuição para que a diplomacia possa vencer", conduzindo "as partes envolvidas no conflito a encontrarem uma solução boa para todos".
"Passam-se hoje mil dias sobre esta iniciativa ilegítima e injustificada da Rússia de invadir a Ucrânia. Mil dias que são mil dias de guerra à democracia, aos direitos humanos... São mil dias de guerra aos valores e princípios que Portugal defende no contexto internacional, que são merecedores, mais uma vez, de uma condenação veemente por parte de Portugal", lamentou o primeiro-ministro, que se escusou a comentar diretamente "operações no terreno" e "ameaças de alguns dos intervenientes no conflito".
"Creio que é responsabilidade de todos os líderes não estarem a multiplicar respostas e contra-respostas que não ajudam a resolver o problema, que não ajudam a resolver os problemas humanitários que as populações sofrem hoje. O nosso desejo é que não se vá mais longe do que aquilo que já se foi e, sobretudo, que ameaças que põem em causa não apenas a integridade do território ucraniano, mas valores muito altos de ofensa à dignidade humana possam ser apenas e só ameaças de retórica e nunca operações no terreno", remata.