O agravamento da crise económica na Síria está a deixar marcas profundas no quotidiano das populações.
“Há quem viva a pão e água”, descreve a religiosa portuguesa Maria Lúcia Ferreira.
Em mensagem enviada à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), em Lisboa, a religiosa, conhecida como irmã Myri, explica que a situação no país “está a piorar” e que “a vida está cada vez mais difícil, com os produtos cada vez mais caros, a comida, sobretudo as roupas”.
“Uma peça de roupa [custa] quase metade de um salário, tal como um quilo de carne… Está a ser muito difícil. Aqueles que tinham algumas reservas de dinheiro para o futuro, estão a gastá-lo pouco a pouco. Aqueles que não têm… vivem a pão e água”, exemplifica.
A Síria está em guerra há dez anos e sofre também as consequências das sanções económicas impostas ao regime de Bashar al-Assad pelos Estados Unidos e pela União Europeia.
A religiosa portuguesa, que pertence à Congregação das Monjas de Unidade de Antioquia e vive no Mosteiro de São Tiago Mutilado, na vila de Qara, conta que as falhas no fornecimento de eletricidade são uma contante e refere também dificuldade de acesso às bilhas de gás ou aos combustíveis para os automóveis.
“Nós, aqui, no mosteiro, temos um bocadinho de sorte porque estamos na linha do poço que bomba a água para a vila e, então, temos mais eletricidade do que em Qara. Agora, no verão, diziam que ia haver apenas duas horas de eletricidade em cada dia, o que não dá para o congelador conservar a comida, nem para o frigorífico. Também ter gás para um mês inteiro é extremamente difícil, não chega. Uma botija de gás só chega a cada família a cada mês e meio, mais ou menos. E então, não dá. Também a gasolina. Tem havido muita falta de gasolina. As famílias têm que calcular onde é que podem ir com a gasolina que recebem. A roupa fica na máquina de lavar dois ou três dias, porque não dá tempo para fazer um ciclo completo”, conta a religiosa.
Igreja ajuda como pode
Também os projetos humanitários e de desenvolvimento que as religiosas estão a promover no Mosteiro de São Tiago Mutilado estão a sofrer as consequências da crise económica. Exemplo disso é o projeto das lãs que, segundo a irmã Myri, é um projeto que procura dar trabalho e ser uma fonte de rendimento extra para as mulheres da vila de Qara.
“Eu comprava a lã a três mil liras sírias, há um ano e meio. Agora, passou a 25 mil o quilo. É enorme a diferença”, detalha a religiosa.
Neste contexto, e dada a situação crítica vivida pela população, assume relevo especial o apoio da Fundação AIS à população cristã através de diversos projetos da Igreja.
De entre todas as iniciativas solidárias, destaca-se a campanha “uma gota de leite” para as crianças da Síria. Lançado em 2015, em Homs e, desde 2017, em Alepo, o projeto “tem sido um dos mais acarinhados” pelos benfeitores portugueses da Fundação AIS.
“É raro o dia em que não recebemos uma carta ou um telefonema de alguém a querer ajudar as crianças de Alepo ou de Homs, a querer dar leite para os meninos da Síria”, conta a diretora da AIS em Portugal, Catarina Martins de Bettencourt.