O sistema bancário nacional concedeu um total de 46 mil milhões de euros em moratórias de crédito até setembro, ao abrigo dos sistemas implementados na sequência da pandemia de covid-19, segundo dados do Banco de Portugal (BdP).
Segundo os dados do supervisor bancário divulgados esta sexta-feira, dos 46 mil milhões de euros, 24,4 mil milhões de euros dizem respeito a empresas (sociedades não financeiras, na designação técnica) e 21,6 mil milhões de euros às famílias.
De acordo os mesmos dados, em junho o total de moratórias concedidas ascendia a 43,2 mil milhões de euros, dos quais 22,5 mil milhões de euros relativos a empresas e 20,7 mil milhões de euros a famílias.
O Relatório de Estabilidade Financeira (REF) do BdP, divulgado na quinta-feira, adiantou que "a proporção dos empréstimos a SNF em moratória, em junho, foi superior em Portugal por comparação ao observado no conjunto dos países da União Europeia, aproximadamente 30% face a 9%".
Em junho, no anterior REF, o BdP tinha divulgado que as moratórias totalizavam 39 mil milhões de euros, mas estes números diziam respeito apenas aos oito maiores bancos a operar em Portugal, ao passo que os números hoje divulgados dizem respeito a todo o sistema.
No REF de dezembro, o supervisor bancário prevê que 15% do crédito às empresas, cerca de 11 mil milhões de euros, fique por pagar durante o período de vigência das moratórias, ou seja, até setembro de 2021.
"Estima-se que até ao final do período de vigência da moratória (setembro de 2021), as prestações devidas e não pagas possam ascender a cerca de 15% do stock de empréstimos das empresas (cerca de 11 mil milhões de euros, do qual um terço relativo a prestações devidas até setembro 2020)", pode ler-se no Relatório de Estabilidade Financeira de dezembro, divulgado na quinta-feira.
Já relativamente às famílias, "em setembro de 2020, 17% do total de empréstimos concedidos [...] encontrava-se em moratória, sobretudo empréstimos à habitação".
"Em setembro de 2020, cerca de 9% dos devedores com empréstimos à habitação e/ou ao consumo tinham empréstimos em moratória. Os devedores que aderiram à moratória em pelo menos um contrato de crédito caraterizam-se por estarem mais endividados, tendo um maior número de contratos de crédito e de relacionamentos bancários", revela também o documento.
No total relativo às famílias, entre março e setembro de 2020, o Banco de Portugal estima que "as prestações devidas e não pagas tenham ascendido a aproximadamente 650 milhões de euros", na sequência da implementação das moratórias.
"Até setembro de 2021, e tendo em consideração os diferentes prazos de vigência para a moratória pública e para as moratórias privadas e a hipótese de não existirem saídas voluntárias de moratória, este montante poderá ascender a 2 mil milhões de euros, com cerca de 4% deste montante a corresponder a juros não pagos", refere ainda.
Em 24 de setembro, o Conselho de Ministros decidiu prolongar por seis meses, até 30 de setembro de 2021, o prazo das moratórias de crédito às famílias e empresas que terminava em 31 de março.
Desde abril que milhares de clientes não estão a pagar os créditos aos bancos, fazendo uso do decreto-lei do Governo que permite moratórias nos empréstimos, criadas como uma ajuda a famílias e empresas penalizadas pela crise económica desencadeada pela pandemia de covid-19.