O Teatro de Marionetas do Porto estreia esta quinta-feira “Frágil”, um espetáculo com um objetivo ambicioso: estimular a imaginação e sensibilizar o público para o agora, para o momento.
O espetáculo que ficará em cartaz até domingo no Teatro Helena Sá e Costa assinala o fim do primeiro trimestre da programação do 35.º aniversário do Teatro de Marionetas.
A peça apresenta um lugar que não existe a não ser na imaginação das coisas e das pessoas, para, precisamente, fomentar a imaginação de cada um. “'Frágil é um lugar, como se nós chegássemos a uma espécie de armazém, onde estão os atores e as peças, que são as marionetas, que são essencialmente frágeis porque são feitas de cartão", explica Isabel Barros, diretora artística da companhia.
"Há todo um universo muito ligado às caixas. E, depois, é tudo um pouco dentro desse universo da caixa. Das coisas que querem ser outras coisas, das pessoas-coisas, das histórias que partem destas caixas frágeis, e, portanto, não tem uma história linear, mas tem muitas histórias dentro desta grande história, dentro deste grande espaço de imaginação", acrescenta.
Isabel Barros assume que se pretende que “o público, saindo dali, não vá mais olhar para certas coisas da mesma forma” porque o espetáculo cria “um momento em que o público pode disparar para este lugar de imaginação”.
Alguns destes conceitos podem apresentar alguma dificuldade para o espetador, já que a peça é para público a partir dos três anos, mas Isabel Barros considera que “esses são os mais fáceis".
"Eles percebem tudo. Aliás, as crianças têm uma capacidade extraordinária, que é a de se deixarem envolver por coisas que estão a ver e conseguem acrescentar", argumenta.
“Este espetáculo é excelente para qualquer idade, inclusive para os adolescentes. Exatamente porque os nossos espetáculos para os mais pequenos nunca são só para os mais pequenos. São espetáculos para todos. Mas este, em particular, é um excelente espetáculo para adolescentes.”
Para Isabel Barros, o contacto do público juvenil com o teatro "acaba por ser uma experiência que os abstrai da realidade virtual, a que estão, por vezes, muito ligados".
"Os espetáculos são absolutamente importantes para colocar as pessoas no presente, na atenção daquele momento. Depois da pandemia, neste momento agitado que vivemos, este tipo de experiência ganha um novo sentido, uma nova força", assinala.
A diversidade e a inclusão são também questões na "agenda" do Teatro de Marionetas e entre abril e junho vão decorrer no Pálo das Marionetas, em Campanhã, oficinas para pessoas portadoras de deficiência visual.
O público sénior também está incluído na programação de aniversário e alguns espetáculos têm entrada gratuita para permitir uma maior acessibilidade. Existe também a possibilidade de sessões para escolas e grupos mediante marcação . Além dos espetáculos de marionetas, “o Pólo também desenvolve outras vertentes, nomeadamente, as leituras encenadas, as visitas livres e as visitas guiadas”.
Passado e futuro
A história do TMP tem 35 anos, sendo marcada por vários sucessos, mas também momentos difíceis, como o da morte de João Paulo Seara Cardoso, fundador da companhia, em 2010. Todavoia, "o projeto tem sido renovado e mantám a sua força principal na criação".
"Por um lado, com o trabalho que vem de tudo o que foi experimentado até 2010, mas também com este sentido de renovação e um trabalho contínuo de pesquisa e de atualização do que é a marioneta contemporânea. E sempre à procura de como é que nós, de criação em criação, conseguimos reinventar-nos”, diz Isabel Barros.
A diretora artística do TMP destaca outro momento importante na história da companhia: a abertura do Museu de Marionetas do Porto, em 2013, "um grande sonho" de João Paulo Seara Cardoso.
“Partilhar com o público as marionetas, os adereços, todas as relações com os espetáculos, de obras que estão ali numa outra vida, numa outra forma de vida, todo o trabalho é um trabalho de exposição.”
Sobre o futuro, Isabel Barros aponta "um projeto de quatro anos, que está em curso, com uma equipa pequenina, mas muito forte".
"Temos muitos projetos sempre em ação e com a criação sempre como foco. Pelo menos, duas novas criações por ano”, avança
Aos novos artistas, Isabel Barros lança um repto: “Têm de ser hoje, e cada vez mais, alguém com uma grande disciplina, para não se perder e não perder o foco, tem de estar atento ao mundo, tem de estar no presente, mas também com uma capacidade muito grande de não se esquecer de onde veio e de onde as coisas nascem. Tem de ser sobretudo muito ativo sobre onde está e o que quer fazer, senão é rapidamente engolido por estruturas maiores, por todo o sistema.”
A companhia faz por envolver todos os artistas nos projetos de criação, nomeadamente nas renovações ou reencenações que acontecem a propósito do aniversário. Para setembro, mês do aniversário, a companhia tem agendada a estreia de “Armazém 88”.
Quanto a “Frágil” não é uma estreia absoluta, já que estreou em 2011. Esta reposição conta com o novo elenco. A peça foi encenada por João Paulo Seara Cardoso e foi a sua última obra. "Ficou por terminar e essa é a homenagem maior a João Paulo Seara Cardoso."
“Começamos por Carrossel ,escrita também pelo João Paulo e encenada por mim. As escolhas são feitas sempre em função deste subtexto, que é a homenagem, sempre presente, ao João Paulo. Também a 'Armazém 88' vai ser uma revisitação, todas são uma homenagem, mas esta [“Frágil”] tem um sentido especial porque foi a última.”